terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Déjà vu

Ano passado precisei copiar às pressas.
Este ano, agradeço ao You tube. Fica uma das melhores mensagens publicitárias de final de ano:



E aqui a do reveillon 2006, que na minha opinião era bem mais emocionante.

Saldo de Natal

O Natal foi ontem e as pessoas ainda estão com aquele ar de felicidade que só deve expirar depois do carnaval. Eu estou decepcionado. Não com o Natal ou com essa felicidade toda, mas com a falsidade e a mesquinharia que algumas pessoas cultivam. Ontem por metade do meu dia me senti mal pela minha inocência, talvez devesse dizer minha estupidez.

Terrível se descobrir rodeado por pessoas sem caráter, sem compaixão. Gente que mente e engana pra satisfazer seus caprichos, que manipula, abusa da boa vontade, da confiança e inocência alheias. Pior ainda quando elas são muito, muito próximas.

AS vezes eu entendo o que faz o mundo se tornar um lugar pior, apesar de não compreender os motivos. Isso tudo me provoca nojo. Não tem outra palavra pra definir. Nojo. Quem dera ainda houvessem milagres pra mudar um pouco essa droga de mundo.

O que me consola é que, seja cedo ou tarde, é sempre bom a gente tomar uma dose de realidade.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Summer came like cinnamon

... so sweet

Hoje começa o verão. Se vivessemos em tempos remotos, estaríamos todos seminus em algum lugar sagrado, comemorando o solstício e provavelmente participando de uma orgia em homenagem ao sol.

Ao invés disso nos acotovelamos nas lojas em buscas de presentes para trocar dia 25.

Não sei se gosto tanto desses tempos modernos. Será que ainda existe alguma possibilidade de fugir daqui?

Delírios à parte, estes eventos cósmicos sempre me seduziram um tanto... ainda entro pruma dessas seitas malucas (nem tanto) de culto à natureza. E que venham sol, mar e tudo o mais que o verão traz de bom (ar condicionado, por exemplo ;)

ps.: Se bem que Natal tem muito mais cara de solstício de inverno, né? Quem me dera estar em NY ou Londres numa data assim...

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Livros lidos este ano

Por ordem de leitura, ainda que com possíveis enganos...

1. Luís Fernando Veríssimo - Orgias
2. Luís Fernando Veríssimo - O jardim do Diabo
3. Bruna Surfistinha - O Doce Veneno do Escorpião
4. Steven Levitt e Sthepen Dubner - Freakonomics
5. Karen Armstrong - A Escada Espiral
6. Santiago Nazarian - Feriado de Mim mesmo
7. Machado de Assis - O Alienista
8. Erasmo de Rotherdam - O Elogio da Loucura
9. Chico Buarque - Budapeste
10. Caio Fernando Abreu - Pedras de Calcutá
11. Caio Fernando Abreu - O ovo apunhalado
12. Caio Fernando Abreu - Morangos Mofados
13. Patrick Suskind - O Perfume
14. Dan Brown - Ponto de Impacto
15. Caio Fernando Abreu - Fragmentos
16. Clarice Lispector - Laços de Família
17. Eça de Queirós - O crime do Padre Amaro
18. Daniel Galera - Mãos de Cavalo
19. Fab5 - Queer eye for the straight guy
20. Elizabeth Hardwick - Noites Insones

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Promessas de capod'anno

Já é natal? Devo ter me perdido na contagem faz alguns meses. Pânico. Será que sou só eu ou a vida não tem dado tempo pra cumprir todas as metas? 2006 foi um ano péssimo em alguns aspectos. 2007 tem tudo pra ser melhor. Óbvio que as chances das coisas darem errado são as mesmas, mas a vida é assim, prós e contras, bem e mal, certo e errado. Este ano cheguei a algumas conclusões importantes sobre a minha vida: ela anda muito cheia de bugigangas, preciso limpar minhas gavetas, minhas listas de leitura, meus favoritos de internet, minhas caixas de email, meus hds. Ando numa sobrecarga de agregados desnecessários que definitivamente ninguém daria conta. Ainda mais depois destes 30 dias acumulando tarefas e atividades. Acho que esta será minha principal meta de ano-bom. Não prometo emagrecer (ainda que precise), não prometo começar nenhuma atividade nova, não prometo manter nada antigo. Cansei dessa rotina de transformar janeiro na segunda feira do ano, aquela em que todos começamos nova dieta, largamos vícios e nos apegamos a novas e saudáveis atividades que jamais chegam à terça. Quero uma vida diferente, quero experimentar coisas novas, musicas novas, leituras, pessoas, enfim, todo um novo universo, mas sem compromisso, sem aquela obrigação rabugenta de promessa de ano novo, e quem sabe assim as coisas realmente aconteçam. Minha promessa desse ano é não prometer nada que não puder cumprir. Não prometer nada, na verdade. No mais, é contagem regressiva pros presentes do bom velhinho e pros 10 segundos finais de 2007. Boas festas a todos!

domingo, 17 de dezembro de 2006

de volta

Um mês praticamente ausente e não posso negar uma quantidade de idéias enorme que passaram pela minha cabeça, de textos, de desabafos, de análises. Não escrevi quase nada, não fiz quase nada, e certamente metade das idéias se perderão. Foram dias de cansaço, de stress, de desgaste, o saldo até pode ter sido positivo em algumas áreas, mas o balanço final está longe de bom, meu mês não valeu a pena. Agora retomo minha vida aos poucos e é difícil. Sinto uma sede das coisas que deixei de lado que me consome, mas ao mesmo tempo há um mal estar e uma letargia me impedindo de colocar todos meus desejos em prática. Acho que estes trinta dias me mudaram de uma maneira que eu não podia imaginar antes. Acho que a minha vida vem me mudando de um jeito inesperado. Espero voltar, breve, com mais do meu ifinito particular.

Boa semana a todos!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Putaquepariu

Quarta feira, 11 da manhã.
A cena é simples: uma corrida curta pra pegar o ônibus a tempo.
Siticom: Pisada em falso num desnível do asfalto, daqueles desgastados pelos ônibus.
Torci o pé. Agora estou sem dormir, mancando e morrendo de dor.
Murphy nunca nos abandona....

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Sinais de vida

Terça feira, 5 de dezembro
5h:21min da manhã

Sim, eu estou vivo, ainda. Não sei até quando.
Lidar com sono está sendo fácil. Lidar com o cansaço, às vezes. Mas o desgaste deve piorar nos próximos dias. O pior de tudo é lidar com a falta de prazer, de satisfação. Seja o prazer de dormir por 6 horas num dia, de pegar sol ou de ler uma revista, um livro, um blog. Não faço nada além de trabalhar nestes dias, e de me estressar e dormir pouco. Me mudei pro escritório, estou a dias dormindo aqui (umas poucas horas), trabalhando muito e comendo porcarias - o único escape ainda possível, mas que deve me deixar fora de forma até o final da safra. Também tenho falado bastante com minha mãe. Reclamado dessa vida. Acho que é o outro escape que tenho nestes dias. Rezo para que tudo acabe logo, e ao mesmo tempo rezo para que o tempo se espiche ao máximo. Paradoxal. Espero voltar logo a minha vida normal (se é que minha vida pode ser classificada assim). Será que um dia vou poder abrir mão de todo esse stress?

Um abraço pra quem ainda passa por aqui.

domingo, 19 de novembro de 2006

A melhor resposta

* texto da Martha Medeiros, e diz tudo

Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam.

Quem é você? Do que gosta? Em que acredita? O que deseja? Dia e noite somos questionados, e as respostas costumam ser inteligentes, espirituosas e decentes. Tudo para causar a melhor impressão aos nossos inquisidores. Ora, quem sou eu. Sou do bem, sou honesto, sou perseverante, sou bem-humorado, sou aberto - não costumamos economizar atributos quando se trata da nossa própria descrição. Do que gostamos? De coisas belas. No que acreditamos? Em dias melhores. O que desejamos? A paz universal.

Enquanto isso, o demônio dentro de nós revira o estômago e faz cara de nojo. É muita santidade para um pobre-diabo, ninguém é tão imaculado assim.

A despeito do nosso inegável talento como divulgadores de nós mesmos e da nossa falta de modéstia ao descrever nosso perfil no Orkut, a verdade é que o que dizemos não tem tanta importância. Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz.

Entre a data do nosso nascimento e a desconhecida data da nossa morte, acreditamos ainda estar no meio do percurso, então seguimos nos anunciando como bons partidos, incrementamos nossas façanhas, abusamos da retórica como se ela fosse uma espécie de photoshop que pudesse sumir com nossos defeitos. Mas é na reta final que nosso passado nos calará e responderá por nós.

Quantos amigos você manteve.

Em que consiste sua trajetória amorosa.

Como educou seus filhos.

Quanto houve de alegria no seu cotidiano.

Qual o grau de intimidade e confiança que preservou com seus pais.

Se ficou devendo dinheiro.

Como lidou com tentativas de corrupção.

Em que circunstâncias mentiu.

Como tratou empregados, balconistas, porteiros, garçons.

Que impressão causou nos outros - não naqueles que o conheceram por cinco dias, mas com quem conviveu por 20 anos ou mais.

Quantas pessoas magoou na vida. Quantas vezes pediu perdão.

Quem vai sentir sua falta. Pra valer, vamos lá.

Podemos maquiar algumas respostas ou podemos silenciar sobre o que não queremos que venha à tona. Inútil. A soma dos nossos dias assinará este inventário. Fará um levantamento honesto. Cazuza já nos cutucava: suas idéias correspondem aos fatos? De novo: o que a gente diz é apenas o que a gente diz. Lá no finalzinho, a vida que construímos é que se revelará o mais eficiente detector de nossas mentiras.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

5 Manias

Por culpa do Crime de Laio, segue uma corrente, não que eu seja fã delas, mas gostei da proposta: Minhas 5 manias - lembradas durante a manhã e - passíveis de publicação:

1. Ajustar o despertador para uns 20 minutos antes do horário que devo acordar, só para desligá-lo várias vezes e continuar me enrolando antes do ato definitivo...

2. Ter uma pilha de livros para ler muito maior do que a minha capacidade de leitura (por falta de tempo).

3. Fugir de quando em quando das minhas responsabilidades para respirar umar fresco, ler algumas páginas de texto ou outra distração de curto período.

4. Dormir com dois travesseiros, ainda que use apenas um deles de verdade.

5. Escrever cartas (as vezes e-mails, mas naquela formatação antiga...).

Agora eu deveria passar o desafio para 5 pessoas sob pena de mau agouro, mas creio que o simples exercício de repassar meu dia e minhas manias todas (quem conhece sabe que são muitas) já foi trabalho suficiente. Recomendo...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Viagem ao limbo

Como é de costume nesta época do ano, minhas malas estão prontas para partir pra longe. Não fisicamente, é uma maneira figurada: como se eu deixasse de existir hoje e só retornasse daqui a exatos 23 dias (numero cabalístico), uma espécie de exílio, que gera muitos frutos, muitas experiências, laços, fios de uma teia tecida ao longo de anos e com muita dedicação, mas cujo preço é total dedicação e um certo afastamento do mundo normal.

Parto agora, talvez ainda consiga mandar algumas mensagens breves, mas provavelmente será algo raro. É provavel que durante esses 23 dias estarei longe dos meios de comunicação mais usáveis - só ficarei de olho no meu email - e que sumirei dos blogs que leio com freqüência , mas é certo que retomo todos eles quando voltar. E espero encontrar as pessoas por aqui quando acontecer. Tenham boas semanas até lá!

domingo, 12 de novembro de 2006

espanto

"Mudar de personalidade, dar alguma guinada brusca na trajetória da vida parecia sempre ser um objetivo impraticável, nada mais que combustível para a ansiedade e a frustração, mas em gestos instantâneos como aquele um mundo inteiro de possibilidades se desenhava. Intervir no destino, de repente, parecia simples. Aos poucos, através de pequenos gestos desse tipo, quem sabe não conseguisse se transformar paulatinamente em outra pessoa, alguém menos calado, que conseguisse incorporar na trama da própria vida a belíssima violência das graphic novels coloridas, a virilidade e o magnetismo dos heróis de seus filmes favoritos, a fluidez selvagem das ações e palavras de alguém como... "

...
Daniel Galera, Mãos de cavalo
...

Maldita mania do ser humano buscar identidade ou semelhança (com a própria vida) nas coisas que lê ou vê a sua volta...

Feira do Livro

Hoje foi o último dia da feira do livro de Porto Alegre, e mais uma vez fico com a sensação de que não aproveitei exatamente tudo o que podia do evento - ou talvez o evento não tenha muito para se aproveitar.

Fora as seções de autógrafo e mais alguns acontecimentos que marcam oficialmente os lançamentos de certos livros na cidade - como o debate fabuloso entre Santiago Nazarian (Mastigando Humanos) e Cíntia Moscovich (Porque sou gorda, mamãe?) que presenciei no sábado de tarde - fica a impressão de uma feira comercial onde a maioria das bancas vendiam os mesmos livros e onde certas obras jamais encontrariam espaço - fosse pela pouca procura ou qualquer outro motivo capitalista do gênero.

Ou seja: mais uma feira do livro toda uniforme. Comprei poucas coisas, nenhuma delas literatura de ficção (uma pena, pois eu amo literatura de ficção), apenas um dicionário importado caríssimo e um livro sobre arte e design dos anos 70. Não que a vontade fosse esta: Ultimamente a verba para livros anda baixa, e combinando-se o fato dos preços não serem exatamente atrativos (quando será que minhas preces serão ouvidas e teremos mais levas de livros em papel jornal e formatação simples pra realmente permitir que o brasileiro leia mais?) a frustração foi quase completa. Quem sabe no ano que vêm!

A novidade da área é um grupo do yahoo para leitores de Porto Alegre, e uma comunidade do orkut para trocas de livros físicos provovidos via web - um sebo virtual. Se algém se interessar, sinta-se a vontade! E boa semana!

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Despreparo

O filhote de pássaro despenca cedo demais do ninho. Sem forças nas asas para voar e sem conhecimento suficiente para evitar as armadilhas e os predadores, está condenado. Estar preparado pro mundo nem sempre é uma opção.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Abraços...

"...
Quis saltar da cadeira e abraçar ela com força, mas já havia algum tempo tinha aprendido que abraços resolvem as coisas só temporariamente, depois não são mais lembrados. Abraços são impotentes.
..."

trechinho colhido (por motivos pessoais) de Mãos de Cavalo, do escritor gaucho Daniel Galera

sábado, 4 de novembro de 2006

Sonho Recorrente

Um quarto pequeno com as paredes pintadas de um branco suavemente amarelado. Uma única janela, fixa, dessas que chegam junto ao chão, sem portas. Da janela se extende até o horizonte uma paisagem sobre telhados. Me aproximo do vidro, quero ver o que acontece lá fora. Uma selva de edifícos me rodeia. A janela fica um pouco acima de todos os outros telhados. A paisagem é cinza, enferrujada. Colo a testa no vidro tentando ver o chão, mas só vejo formigueiros infindáveis de pessoas. Centenas de outras janelas. Vitrines de outras vidas. Me sinto num cortiço. Caos e desordem. Pequenices. Ajoelho no carpete também cinza ainda sentido o gelado do vidro contra a minha pele. Tento gritar. Estou preso aqui, neste quarto sem portas. Nesta vitrine da minha não vida. Penso em quebrar a janela pra fugir dessa jaula na qual não caibo. E acordo.

Será que eu aprenderia a voar?

Seminário

Pra quem curte ler, mesmo que não vá fazer o vestibular da UFRGS, vale a pena conferir esse seminário: análises profundas das obras, referenciando as características dos autores, o contexto na hora da criação e várias avaliações relevantes sobre os mais diversos aspectos. Os dois primeiros encontros já aconteceram, mas fica a programação pra quem se interessar pelos próximos três.



"A Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, através de sua Coordenação do Livro e Literatura, juntamente com os programas de pós-graduação em letras da UFRGS e da PUCRS, promove a terceira edição do Seminário Literatura para Além da Obrigação.

O Objetivo dessa atividade é proporcionar aos seus participantes um contato maior com a literatura através de exposições feitas por mestrandos e doutorandos que desenvolveram estudos e pesquisas sobre os autores e as obras que serão objetos das questões da prova de literatura da UFRGS e, certamente, em outras instituições.

Desejamos, portanto, que a participação nesse seminário seja útil para a resolução das questões da prova de literatura do vestibular, mas que, principalmente, vá além disso: permita àqueles que tomarem contato com as obras abordadas nos cinco encontros uma visão mais fecunda e, por isso, mais próxima dos sentidos contidos no texto literário."



Programação:

Hora: das 8h30min às 12 h00

28 de Outubro
  • Luís de Camões - Os Lusíadas (cantos I ao V)
  • Castro Alves - Espumas Flutuantes
  • José de Alencar - Iracema
4 de Novembro
  • Machado de Assis - Quincas Borba, O Alienista, Um Homem Célebre, Conto de escola, Noite de Almirante, Uns Braços
  • Eça de Queirós - O Crime do Padre Amaro
18 de Novembro
  • Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência
  • Érico Veríssimo - O Arquipélago
25 de Novembro
  • Dyonélio Machado - Os Ratos
  • Josué Guimarães - Camilo Mortágua
2 de dezembro
  • Guimarães Rosa - Primeiras Estórias
  • Clarice Lispector - Laços de Família

Vale lembrar que, uma vez que o certificado não estará mais disponível pra quem começar agora a participar, é possível se inscrever apenas para um dia específico pagando módicos 3 reais cada.

Programação interessante na cidade, pena que só seja feita uma vez ao ano e focando apenas nos livros do vestibular, sem dúvida seria uma ótima oportunidade de se discutir mais literatura (e com gente que entende muito do assunto)

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Incomum

A sensação é - como deveriam ser todas as sensações humanas - impossível de se descrever com palavras, mas é o quinto ou sexto calafrio que sinto hoje, desses que umedecem os olhos e arrepiam os pêlos do corpo.

Seria aquela sensação boba (ou não) de que alguma coisa fora do meu alcance acontece com alguém longe daqui, ou apenas uma impressão passageira e carregada do dia de finados?

A idade faz com a gente coisas que duvidaríamos alguns momentos atrás. O tempo todo.

Free Hugs

"Há um ano atrás, Juan Mann era só um homem estranho que ficava parado no Pitt Street Mall em Sydney, Austrália oferecendo abraços de graça para as pessoas que passavam pelas ruas. Um certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, o líder da banda Sick Puppies e, desde então se tornaram bons amigos. Um certo dia Moore decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por "Free Hugs". À medida que o Free Hugs atingiu proporções maiores, o conselho da cidade tentou banir a campanha . Então Mann e seus amigos fizeram uma petição com mais de 10.000 nomes apoiando a campanha do abraço de graça. Quando a avó de Mann morreu, Moore decidiu mixar o vídeo que ele tinha feito do Free Hugs com a música All the Same, que ele havia gravado com a sua banda Sick Puppies. Vale a pena conferir o vídeo. Um filme que apresenta uma verdadeira história que inspira humanidade e esperança.Algumas vezes um abraço é tudo que precisamos. Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria na vida das pessoas através de um abraço."

(music by sick puppies)

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Exagero

Não sei se me adapto ou se me apavoro: as pessoas andam cada dia mais hiperbólicas (será que a palavra existe? Se não existir, eis um neologismo). E esse comportamento deixa apenas uma sensação de falsidade, de vazio nas palavras.

Explico: hoje presenciei uma demonstração de afeto - uma declaração de amor e amizade, mais pra amizade - completamente carnavalesca. Um jeito afetado completamente descartável.

Me acostumei a condensar aquilo que eu sinto - e sinto a maioria das coisas de uma maneira tão intima, tão introspectiva e limitada - que tento demosntrar isso com meu comportamento, e nalgumas situações indispensáveis, com palavras, poucas, simples, com densidade.

Sei, existem pessoas diferentes, jeitos diferentes, sentimentos diferentes, e que muitas vezes significam a mesma coisa. Mas quando a necessidade de espalhafato é muito grande, fica visível que a aparência que o ato vai ter para o mundo todo, para todos que vêem de fora, é mais importante que o ato em si e que a pessoa que o recebe.

Me classifico entre as pessoas que, ao receber uma mensagem daquelas com carro de som, balões e escandalo, provavelmente romperia para sempre os laços...

Serei de outro planeta?

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

idéias soltas

Post completamente prático, nada literário nem reflexivo, devaneios sem ordem ou sentido, fluindo agora...

O cansaço toma conta e minha vontade é ir dormir neste exato momento. O que deu em mim? Não sei. Acho que ando aprendendo a aproveitar as coisas até o tênue limite em que elas se tornam entediantes. Neste ponto eu paro e mando tudo pro espaço. É um perigo!

A Feira do livro começou sexta. Está interessante, mas definitivamente minha situação financeira não está das mais favoráveis. E a pilha de livros anda muito grande, medo de aumentá-la e não dar conta. Mesmo tendo deixado dois livros do Caio pra trás por meros 24 reais (oh dor, ainda volto lá pra comprá-los). A única coisa insuportável dessa feira é o clima de Porto Alegre por esses dias (inferno na terra durante a tarde) ou os acotovelamentos de pessoas nas bancas (durante a noite)

Janeiro se aproxima e com ele uma possível guinada: vestibular pra faculdade de design da UFRGS. Devo estar doido, mas enfim, eu gosto de me sentir assim.

Comecei a cogitar uma possibilidade mais maluca: fechar meu apartamento e ir-me embora daqui. De Porto? Do Rio Grande? Do Brasil? Qualquer um dos três, ou nenhum deles. Acho que preciso levar a idéia mais a sério e quem sabe se surgir alguma chance...

Outra possibilidade maluca: procurar alguém pra dividir apartamento. Já tive uma proposta recente de uma ex-colega de faculdade que queria se mudar urgente, já deve inclusive ter se mudado hoje, mas enfim, começo a pensar que talvez minha vida fosse mais interessante se voltasse a dividir apartamento: nunca vivi algo próximo de um seriado tipo friends nos meus quase 7 anos morando com amigos, parentes, conhecidos e até completos estranhos, mas quem sabe uma hora não acontece ;) Financeiramente é uma mão na roda (ou o inverso é o inverso, whatever)

Novembro se aproxima e o medo do perigo também. Já são 5 trabalhos acumulados para 20 dias, e mais coisa surgindo. Será que eu me mato de trabalhar em nome do dinheiro? Sei não, ia fazer uma bela diferença na minha vida, mas ao mesmo tempo me sinto despreparado para sacrifícios do gênero ( e não, não é preguiça).

Ando cheio de idéias pra escrever, curiosamente estou usando um bloquinho que a Rê me deu, chiquetésimo, do MASP, pra anotar algumas idéias e um dia desenvolvê-las (a explicação do curiosamente vou ficar devendo, hahaha, só queria fazer esta referência). Algumas nem anotar seria preciso, não saem daqui (da cabeça). Mas toda vez que paro e sento e pego papel ou teclado, bate um cansaço, um peso na cabeça, nos ombros, é curioso me sentir assim, velho de espírito, justamente quando tenho o tempo. Devo estar piorando com a idade.

Cena pouco crível: sábado a tarde, eu sentado numa praça, lendo uma revista calmamente enquanto ouvia música anos oitenta, um calorzinho leve, um sol de primavera, uma brisa suave e refrescante. Obvio que não foi em Porto Alegre. Até poderia, mas não com o mesmo clima. Viagem a Bento tem suas vantagens, acho que preciso redescobrir algumas coisas da minha cidade natal...

Enfim, ótima semana a quem passar por aqui, melhor ainda a quem tiver coragem de ler tudo.
E se alguém estiver afim de um happy hour nestas noites quentes que se anunciam, me avise, ando precisando espairecer um pouco e o clima favorece.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Bed Jumping



*esta é uma semana de posts roubados, esse saiu do Cafeina

Qual é a primeira coisa que você faz quando entra em um quarto de hotel e vê aquela cama gigante e macia? Você não é o único… e já tem um monte de gente transformando esses instantes de diversão no movimento “Bed Jumping”.

domingo, 22 de outubro de 2006

Status

*retirado da terça insana (que via agora há pouco)

Status é comprar algo que você não quer
com o dinheiro que você não tem
pra fazer um monte de gente que você detesta
pensar que você é algo que você não é.

*ou qualquer coisa parecida

texto roubado...

Só deixo meu coração na mão de quem pode fazer da minha alma suporte para uma vida insinuante. Insinuante anti-tudo-que-não-possa-ser.
Bossa nova hardcore. Bossa nova nota dez.
Quero dizer, eu estou para tudo nesse mundo. Então só vou deixar meu coração, a alma do meu corpo, na mão de quem pode. Na mão de quem pode e absorve todo o céu, qualquer inferno. Inspiração de mutação, da vagabunda intenção de se jogar na dança absoluta da matança do que é tédio, conformismo, aceitação.
E eu fico aqui, vou te levando nessa dança sobre o mundo. Pode tudo do amor.
Porque eu não quero o teu ciúme, que é o cúmulo. Ciúme é o acúmulo de dúvida, de incerteza de si mesmo, projetado assim, jogado como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa.
Eu não tô à toa. Eu sou muito boa.
Eu sou muito boa pra vida. Eu sou a vida oferecida como dança. E eu não quero "te dar gelo". Diabos que o carregue. Eu sou muito boa.
Vê se aprende, se desprende. Vem pra mim que eu sou a esfinge do amor te sussurrando. Decifra-me, decifra-me.
Só deixo minha alma, só deixo o coração, só deixo minha alma na mão de quem pode.
Só deixo minha alma, só deixo meu coração na mão de quem ama solto.
Eu vou dizendo que só deixo minha alma, só deixo meu coração na mão de quem pode fazer dele erótico suporte pra tudo que é ótimo fator vital.


(Kátia B / Marcos Cunha)

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Quarta Insana

Nesta quarta uma programação diferente: Festa de aniversário no Hospício (São Pedro, pra quem conhece). Estranhamente foi a noite mais divertida da minha vida, ao menos daquelas que tenho lembrança (!?).

Existem certas experiências nesta vida que, mesmo que não sejam exatamente o esperado, adicionam muito. E definitivamente o tempo nos privilegia: ganhamos mais astúcia pra aproveitar esse tipo de situação impar.

Curioso como as situações revelam as pessoas...

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Do Crime

"... é uma bela e grande coisa a paixão" O amor é uma das grandes forças da civilização. Bem dirigida levanta um mundo e bastava para nos fazer a revolução moral... - E mudando de tom: - Mas escuta. Olha que isso às vezes não é Paixão, não está no coração... O coração é ordinariamente um termo de que nos servimos, por decência, para designar outro orgão. É precisamente esse órgão o único que está interessado a maior parte das vezes, em questões de sentimento. E nesses casos o desgosto não dura. Adeus, estimo que seja isso!"

.:*:.

Eça de Queirós, vários desenlaces, várias interpretações cabíveis (no contexto).

Meus dias andam curtos e muito cheios mas pretendo parar e escrever em breve, prometo a mim mesmo, às idéias que andam vagando por aqui, anotadas numa beirada da mesa. Ler é a única coisa que ainda consigo de bom por estes curtos dias...

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Harriet

"sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus mas como você me dói de vez em quando."

um trecho... obviamente tinha que ser Caio...

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Em alguns momentos

me sinto capaz de criar algo realmente tocante e original.
Aí o momento muda. A tela - ou o papel - continua em branco...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Minicontos

Pra quem ainda não soube, a unisinos está com um desafio literário de minicontos até 200 caracteres, quem estiver interessado, visite o Hotsite

Escrevi alguns deles, metade já publicado aqui no blog sem muita explicação, outros resgatados de posts bem antigos, editados, recauchutados, enfim, vou postar novamente aqui pra manter um arquivo ;)

.:*:.

Epifania
Sentado junto à janela, com a máquina de escrever à sua frente, olhava sobre os telhados esperando por uma epifania. Mas as melhores palavras, os melhores contos, sempre eram impublicáveis.

Epifania II
Viveu aquela vida medíocre até descobrir que devia deixar as raizes para as árvores. Criou asas. E desde então o céu é o limite.

Vaidade
Com o frasco na mão, refletia frente ao espelho. A vaidade sempre lhe fora um veneno: ideal em doses ínfimas, letal aos imprudentes, certamente tinha algum parentesco com o cianureto.

Escuridão
Primeiro, medo. Aos poucos, os olhos se acostumam à penumbra. As formas se distinguem.O quarto (o mundo) está ainda aqui, exatamente o mesmo de antes. Infantil essa insegurança na hora de dormir.

Autofagia
Quando a literatura em volta escasseava, devorava as próprias entranhas, ruminava sentimentos, nutria-se de idéias secas armazenadas na alma. Arriscava consumir-se, mas provar de si mesmo compensava.

Esquecimento
Percebia seu próprio estado pelos vasos de plantas que tinha em casa. Quando murchavam de sede, era porque andava esquecendo de si mesmo.

Beta Blogger

E não é que fui selecionado como beta tester do Blogger?
Só posso dizer que aprovo todas as alterações e que a nova interface é humilhante.
Aderi de vez à Igreja Googleana....

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Bazar de Primavera

Ajudando a divulgar, a pedidos...

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Palavras

As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado, será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar - uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco desabar pelo despenhadeiro as minhas mais altas geleiras. Assim, pois, não falarei mais no sorvedouro que havia em mim enquanto eu devaneava antes de adormecer.

C.L.

.:*:.

Clarice sempre Clarice. Este é o texto que abre um dos livros que chegaram hoje, via correio, sobre a sensibilidade no texto publicitário. A escolha foi um tanto insegura, no escuro, mas creio que vou gostar muito do texto. E gostei mais ainda da abertura...

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

De fora

Existe uma experiência ímpar que só a tecnologia permite: Ver você mesmo de fora.
Este final de semana tivo o (des)prazer de ser filmado e me assistir depois. Estranho.
Não sei se foi a consciência da câmera, a situação, ou se sou assim o tempo todo (mais provável?), mas me achei estranho. Definitivamente sou diferente (demais) do que me imagino, um mau-ator-real pra meu próprio papel. Quem sabe preciso de alguma aulas de interpretação...

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Psicologia Inversa

Descoberta (ou tomada de consciência?) dos ultimos dias:
É mais fácil saber o que não - ou como não - queremos ser.
Nestes últimos tempos tenho aprendido que vários comportamentos meus são completamente insuportáveis. De fato, eu sou uma pessoa pouco suportável (pra mim mesmo), o problema é que ou demoro a me dar conta de algumas coisas ou só o faço quando alguém se comporta da mesma maneira comigo. Será este um problema de todos nós? Ou sou intolerante demais?
E mudar é tão complicado, depende de estar consciente o tempo todo, e acabo por agir instintivamente na maior parte do meu tempo. Será que a maturidade ameniza isso ou com a idade apenas perdemos mais ainda o controle?

Política...

"Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera."

Augusto dos Anjos tinha razão - certos textos nunca deixam de ser atuais.
E as pessoas continuam mal informadas. Prometi que não falaria em política publicamente, mas já quebrei essa promessa várias vezes. Não consigo ficar calado quando ouço uma bobagem, dessas sem tamanho, que as pessoas despejam por aí. Não vou fazer propaganda de nenhum partido ou candidato aqui, pois como dizem os versos, cada um deve sentir, inevitável, sua própria necessidades de ser fera, e o que é verdade para uns pode não ser para todos.

Pena que a grande massa viva deste país não saiba correr atrás daquiulo que realmente poderia resolver sua vida, mas enfim, a uma altura dessas dos acontecimentos, só resta pedir a Deus ou a qualquer outra força superior que zele um pouco pelos desajuizados. E que perdoe qualquer lapso, afinal, a maioria de nós não sabe o que faz.

Boa eleição à todos, votem com consciência (e acreditando, se ainda for possível)

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

lacunas

Sensação estranha na hora de dormir, todas as noites iguais, um vazio, um vácuo, uma revolta entre duas metades de mim, seguir acordado indefinidamente, lembrar do amanhã de compromissos inadiáveis, chatos, burocráticos, temperados por muito sono, desejar uma outra vida, um outro papel, ser protagonista em uma outra história, ser coajuvante da própria história, vazios menos profundos, um lugar especial, uma casa, uma morada, uma vista para o mar, música e idéias, imaginação sem limites, filmes antigos, fotografias em sépia e preto e branco, paixões diárias avassaladoras, pela própria vida, mundo, pessoas, que cruzam o caminho uma única vez, várias vezes, o tempo todo, um único instante, desejar o ontem, desejar o amanhã, refugar o agora, sentir-se fora de época, fora de local, fora de rumo, rumar sem destino, rumar apenas pela estrada, escolher caminhos, deixar pegadas, marcas, pedaços, ser diferente a cada dia, crescer ainda que pra dentro, estar sempre incompleto, sempre repleto de vazios, de pedaços, de peças trocadas aqui e ali com o mundo, ser um mutante contraste de cheios e vazios que nunca se completa.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Carlos Chega ao Céu

E olhando aquele nuvenzal
todo, comenta: “Gente, não é
que virei mesmo eterno?”


Lá no céu, Cecília Meireles acorda cedinho. Mais cedo ainda do que de costume, que ela gosta de espiar os querubins tontinhos de sono. Mas hoje é dia especial. Cecília prende os cabelos, depois toma sua homeopatia (será Dulcamara? Daqui não dá pra ver – pode até ser Stramonium) e lava devagar o rosto na água do arco-íris. Bebe seu chazinho de pétalas de rosa branca – amarela não, que dá azia. Escova devagar as asas, pluma por pluma. Só depois de bem bonita é que bate de leve na porta da nuvem ao lado. Dentro, um resmungo mal-humorado.
É Vinícius de Moraes, que virou a noite com o arcanjo Gabriel, conhecendo as bocas da zona da Ursa Maior, aquela louca pirada. Mesmo de ressaca, o Poetinha acorda. “É hoje” – sussurra Cecília na janela que Vinícius se espreguiça: “Ô xará, não é que é mesmo hoje” E vai correndo se aprontar.
De braços dados, os dói vão bater à porta da nuvem de Manuel Bandeira. Mas nem era preciso. Manuel á está aceso, debruçado na janela, o nariz um pouco vermelho, fungando e tomando café quente que Irene acabou de prepara. “É hoje” – dizem Cecília e Vinícius. Manuel funga: “E eu não sei, gente? Daqui a pouquinho”. Os três ficam em silêncio, o coração deles começa a bater no mesmo compasso (dodecassílabo? Daqui não dá para ouvir direito) então eles olham para baixo, em direção ao planeta Terra, que gira e gira, meio bobo de tão azul.
Aí uma nuvem dourada lá embaixo começa a ficar cada vez mais dourada, a chegar cada vez mais perto. Brilha tanto que os três quase se assustam, até reconheceram São Pedro na direção. Que pena, não dá mais tempo de chamar Pedro Nava. A nuvem aterrissa, São Pedro abre a porta. Um pouco encabulado, atrapalhado com as asas, cabeça baixa. Carlos Drummond de Andrade desce e põe os pés n céu. “Não é que virei mesmo eterno?” – comenta, olhando aquele nuvenzal todo. Então vê os três. Tanto tempo, pois é, tanto tempo, pensei que nem vinha mais.
Cecília, você não mudou nada, e essa barriga, Poetinha? Não toma jeito, curou a tosse, Bandeira? Ta mais magro, Carlos, e a Dolores? Vai bem, mandou lembranças, qualquer dia chega por aqui. Irene traz mais café, bem preto, bem forte. Vinícius dá um jeitinho de virar no café uma talagada de uísque da garrafinha que carrega sempre, disfarçada sob a asa esquerda. Os quatro brindam, olhos molhados de saudade satisfeita.
Depois olham pro mundo aqui de baixo, que girar e gira, todo azul, assim de longe, e esperam um pouquinho, enquanto bebem o café, até conseguirem localizar, entre nuvens, a América do Sul. Custa um pouco para encontrarem , quase no extremo sul dessa América, um pontinho luminoso chamado Porto Alegre e, bem no centro do coração dessa cidade, um velhinho de cara sapeca, parado em frente a um porta-retratos com a foto da Bruna Lombardi. É o Mário Quintana – eles sabem -, ou será o Anjo Malaquias? (isso nunca ninguém soube). Cecília, Vinícius, Manuel e Carlos sorriem mansinho, espiando Mário lá do céu, lá de cima.
Mas a Terra – tão azul assim, vista de longe, vista de cima – eles olham com pena. Sabem que pelo menos metade desse azul todo, depois que eles se foram, brota dali, do quartinho do Mário. Aí suspiram, tadinho, que barra! Um anjo torto vem pedir autógrafo de Carlos. “desguia” – avisa Vinícius. – “Um chato, maior aluguel”. Carlos pergunta de Maria Julieta, Manuel diz que leva ele até lá. Cecília tem um almoço com Clarice e Ana Cristina. Vinícius não sabe se dorme mais um pouco ou se pega o Leon Eliachar para irem até a casa de Elis - será que já acordou, a diaba? -, ta com samba novo na cabeça, precisa cruzar com a Clementina.
Cá embaixo, no centro do coração gelado do pontinho luminoso chamado Porto Alegre, pleno agosto, Mário Quintana abre a janela, olha para cima e dá uma piscadinha.
Danados, pensa, que danadinhos. O dia parece tão cinzento que não resiste à tentação de escrever um poema. Bem curtinho, bem feliz. Entre lá e cá, girando e girando sem parar, feito louca.
A Terra também não resiste. De puro gosto, fica ainda mais azul – você viu?


O Estado de São Paulo, 26/8/1987

Caio Fernando Abreu – Pequenas Epifanias – Editora Agir

domingo, 17 de setembro de 2006

Epifania

Sentado junto à janela,
com a máquina de escrever à sua frente,
olhava sobre os telhados esperando por uma epifania.
Mas as melhores palavras, os melhores contos,
sempre eram impublicáveis.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Sem ensaios...

Quem dera a vida fosse uma grande peça de teatro, com alta produção e diversos ensaios para prevenir as falhas e erros de interpretação. Uma daquelas em que a gente lê o roteiro antes pra evitar cenas indesejadas, sob pretesto de recusar o papel. Ou então - mais modesta - tivesse ao menos um ensaio, pra que mesmo sem escapar de todas as falhas, pudessemos evitar as desgraças maiores, e viver a apresentação de verdade com a experiência de já ter visto de tudo.

Devaneios de uma tarde fria e chuvosa. Sei lá porque me vêm a vontade doida de viver toda a minha vida de novo, do mesmo jeito, mas com a perspectiva que possuo hoje do mundo, das pessoas, da própria vida.

O tempo é curioso, inimigo e amigo ao mesmo tempo.
Sei que em breve, talvez uma dezena ou mais de anos, eu sinta a juventude se esvaindo e mude de idéia, mas ultimamente fiz as pazes com ele.

Só fica essa vontade, esse desejo, de que toda esta luz que se faz agora sobre o mundo e as pessoas, tivesse chegado muito antes, poupado muitos tombos, esbarrões e situações que nem chegaram a ser embaraçosas pela simples incapacidade de compreensão do todo.

Tomara que o mundo me reserve ainda vários anos pra aproveitar isso, e o que mais estiver por vir. Tomara...

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

You're gonna find yourself somewhere, somehow.

Vi o clipe dessa música - put your records on - por acaso, num domingo entediante em que passava os canais rapidamente a procura de algo que não derretesse meu cérebro.
Gostei da simplicidade, de alguns pedaços, da melodia, enfim, é meio boba, mas cola feito chiclete. Ficam uns trechinhos...


"Maybe sometimes,
we got it wrong,
but it's alright
The more things seem to change,
the more they stay the same
Oh, don't you hesitate. "

"Maybe sometimes,
we feel afraid,
but it's alright
The more you stay the same,
the more they seem to change. "
Don't you think it's strange?

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ingredientes

* post inspirado por uma breve visita ao mercado público de Porto Alegre neste final de tarde, para comprar um pacote de aveia, mas que acabou num grande prejuizo por conta de diversas aquisições importantes...



Curry, páprica, orégano, alho, salsinha, manjericão, manjerona, cominho, cebolinha, alho-poró, salsão, pimentas, noz moscada, azeitonas, tomates secos, funghi, champignon, shiitake, shimeji, azeite de oliva, cravo, canela, baunilha, erva doce, uvas-passa, figos cristalizados, bananas-passa, maçã seca, damasco, ameixas-pretas, nozes, castanhas, coco ralado, aveia, flocos de milho, flocos de arroz, ...

Esses itens não fazem parte de uma receita específica, mas constam na minha Wishlist.
Se a minha própria sobrevivência não dependesse tanto do meu trabalho, certamente uma das profissões que seria a culinária. Não o básico, não o cotidiano, o feijão-com-arroz de todo o dia, mas um verdadeiro laboratório, bem próximo do que são as cozinhas dos grandes chefes de hoje.

Acho que sempre tive meu radar profissional voltado pras coisas que mexem com os sentidos, fui cair justo no mais difícil de exercer. Um dia ainda abro um restaurante pequeno, desses lugarzinhos que as pessoas só descobrem por acaso ou indicação e que nunca passam do patamar de lugarzinho pra não perder o charme e o jeito anti-industrial de ser.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Observações de quarta à tarde

duas coisas:

1. Cerca de 80% do que uma pessoa é vêm da imaginação das outras pessoas.
As vezes fico chocado com isso: como a imaginação alheia consegue alterar o perfil de uma pessoa quase completamente. Engrandecendo ou diminuindo, apaixonando ou odiando. Ando vivendo algumas situações bem presentes disso tudo, o que me faz pensar que as vezes o imaginário é mais importante do que o real, por um determinado tempo....

2. Qual tipo de poder é mais importante: carisma, dinheiro ou contatos?
Sempre achei que dinheiro fosse, ao menos aqui no Brasil, a opção ideal (se nos fosse dada a escolha), mas me pergunto hoje até onde vão as garras de um carisma impressionante (combinado ou não com quaisquer falhas de caráter). Gentileza, inteligência e charme sempre são um perigo...

Comments

Só avisando aos que deixaram comentários chulos que eu ri muito de tudo, mas que meu saldo bancário ainda não chegou tão alto a ponto deu não dar bola para esse tipo de risco e publicá-los... e sim, concordo com a opinião de vocês todos sobre a justiça brasileira...

sábado, 2 de setembro de 2006

Moderação de comentários

Pessoas, novidade quente:

o blog Imprensa Marrom foi condenado a uma ação de reparação de dano moral, porque um comentarista teria ofendido a honra de uma pessoa. Isso mesmo, fiquem atentos: o comentário não era de um dos donos do blog, nem mesmo de um redator: foi um comentário, anônimo, desses que as pessoas deixam nos posts. O blog não foi avisado, nem sequer para que o comentário fosse removido. O blog simplesmente foi tirado do ar de uma hora pra outra pela justiça, além da cobrança de uma indenização de 3500 reais.

Mesmo sabendo que o autor podia ser rastreado por IP, o juiz entendeu que a responsabilidade do blog é do dono, independente da autoria do coment.

Enfim, abre o precedente pra outros tipos de processo desse tipo.
A partir de hoje, meus comentários (ou melhor, os do ócios) não têm mais palavra de verificação, a partir de hoje os comentários serão moderados, ao menos assim fico seguro quanto o conteúdo deles. Espero a compreensão de todos, e fiquem de olho nesse tipo de coisa, abraços!

(notícia via: martelada)

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Top Top Música de Fossa...

Sábado passei um pedaço do meu dia ouvindo várias musicas de cds perdidos no baú...
Estava atrás de algumas músicas de fossa (prum Sarau Temático), e fiquei entre várias opções na hora de me decidir.

Vale a pesquisa: se você pudesse escolher uma única opção de música deprê, qual seria?
Vale fossa romântica ou de qualquer outro tipo...

Eu escolhi "A Via Lactea" da Legião, por motivos óbvios (já foi tema de alguns momentos meus), mas a disputa foi acirrada:

- O último pôr do sol, do Lenine
- Mil Pedaços, também da Legião
- Both Sides Now, da Joni Mitchel (ok, esse é relativo)
- Walk Away, do Ben harper
... várias outras

.:*:.

PSP. (post script do post) : Há anos que eu não houvia os cds do legião de cabo a rabo. Acho que ainda ninguém superou a profundidade das letras do Renato Russo. Pena que ele nos deixou assim, tão cedo...

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Dois ou três almoços, uns silêncios

Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"
(Por Caio Fernando Abreu, Ilustração de Rodrigo Rosa)



Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

(Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Imagens que valem por várias palavras...

Algumas propagandas boas, desses ultimos dias...







via: adverbox

domingo, 20 de agosto de 2006

diferenças...

que só o tempo pode esclarescer.

"Paixão é o sonho de ter eternamente.
Amor é o pesadelo de perder a qualquer hora"

.:*:.

"Love Is Blindness"

Love is blindness
I don't want to see
Won't you wrap the night
Around me
Oh my heart
Love is blindness

In a parked car
In a crowded street
You see your love
Made complete
Thread is ripping
The knot is slipping
Love is blindness

Love is clockworks
And cold steel
Fingers too numb to feel
Squeeze the handle
Blow out the candle
Love is blindness

Love is blindness
I don't want to see
Won't you wrap the night
Around me
Oh my love
Blindness

A little death
Without mourning
No call
And no warning
Baby...a dangerous idea
That almost makes sense

Love is drowning
In a deep well
All the secrets
And no one to tell
Take the money
Honey
Blindness

Love is blindness
I don't want to see
Won't you wrap the night
Around me
Oh my love
Blindness

terça-feira, 15 de agosto de 2006

Dias de silêncio...

"Nada mais insuportável
que um homem temer
os seus próprios silêncios."

Não, não chega a tanto...
Não há um temor neste silêncio, mas consciência.
Olho pro que escrevi nestes últimos tempos, e decididamente este é meu infinito particular. Desconexo, desfocado, perdido. É a minha cara...

É engraçado isso. Alguns dias o tempo me falta, noutros a vontade, noutros a inspiração. Leio e escrevo sobre milhares de coisas, mas nada muito profundo ou pessoal ultimamente.

Estarei me tornando superficial? Não, sei que não. Talvez as idéias estejam rasas demais, em função da grande quantidade de acontecimentos. A cabeça fervilha com mil e uma novidades. Andei lendo muito ultimamente, estudando, vendo e fazendo coisas novas. Ainda assim fica aquela necessidade de mais tempo, de espichar as horas, criar vácuos, dormir menos, sobreviver de cafeína.

E estranhamente os anos começam pesar. Sei, não sou velho, mas acho que perdi o pique de revirar madrugadas em claro sem sofrer grandes conseqüências que não um bocejo ou outro no dia seguinte. Tenho trabalhado muito, cansado muito, e dormido pesadamente nestes últimos dias, a briga com o relógio é uma constante, principalmente nas manhãs.

E a briga com as decisões - o problema de querer mil coisas é que o tempo é justamente um só, e não é tão flexível. Foco n'algo, o resto me escapa. Ou me abandona, ou eu que abandono. Por isso andei sem escrever...

Será que haverá um dia em que conseguirei ter e fazer tudo? Ou quase?
Duvido muito, maldita ambição humana. Mas não reclamo. A vida anda melhor a cada dia...

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Pôsteres pela Paz

*tirado do Hotel Mari

Pra quem gosta de design, a dica é ótima: arte com engajamento social. Não deixem de consferir os Pôsteres

"Ainda no clima engajado que impera nesta grande cidade (Sampa), a galeria da AIGA apresenta uma ótima exposição de posters políticos do mundo inteiro, chamada The Graphic Imperative (Posters Internacionais pela Paz, Justiça e o Meio-Ambiente 1965-2005). São 120 imagens eloquentes criados por designers de lugares tão diversos como Jamaica, Suécia, Russia, Cuba, Irã ou Estados Unidos, e que comprova a força dessa mídia tão antiga. Ah, sim, e seguindo as novas diretrizes da AIGA, a exposição está inteirinha disponível online."

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Mylo - novidade da sony



Comparado a maioria dos equipamentos da sony lançados nestes ultimos anos (alguém lembra do concorrente do i-pod que postei aqui?), o mylo é uma novidade surpreendente: um media player com MPEG-4, audio digital, e imagens. Também tem conexão WiFi e um teclado QWERTY, para usar com Google Talk e Yahoo Messenger (Sem MSN). Além disso tudo, ele ainda funciona, sem fio, como um Skype phone! E inclui um Opera browser. E pode trocar musicas (wirelessly) com outros mylos na área, a lá iTunes.

The mylo tem 1GB de flash memory, em um Memory Stick Pro Duo slot. A tela é de 320 por 240 pixel 2.4" LCD. Será vendido por cerca de U$350 quando chegar às prateleiras, em Setembro.

Se alguém tiver quase 1000 reais pra jogar fora, me dê um desses de presente =)

sábado, 5 de agosto de 2006

Ok Go!

Copiado descaradamente do cafeína (que anda muito muito bom)

Esta é a banda OK Go e eles são imperdíveis. O nome da banda já sugere movimento e o charme deles é esse mesmo, eles levam isso a sério. Há diversos clipes caseiros deles no You Tube, nos quais o forte é a coreografia kitsch, uncool, mas que no final diverte pra caramba. Veja esse, do mais cult até o momento, “A Million Ways”, diretamente do quintal da casa de um deles:



E os caras foram rápidos para aproveitar o sucesso nos bits do you tube. Lançaram um concurso de quem faz a melhor versão “+ caseira ainda” desse clipe:



Já tem diversos clipes caseiros disso, mas enquanto não tem um vencedor, lançaram o clipe de “Here it goes again”, na qual se superam:



Quanto tempo até isso virar propaganda?

Pra quem é lostmaniaco

O especial Segredos de Lost vai mostrar o universo que cerca a série mais popular do momento. O que há por trás da história, quais são as referências filosóficas, históricas, científicas, quais são as pistas secretas, como é o mundo que foi criado fora da TV em volta do seriado? Além disso, haverá um exclusivo caderno de 16 páginas lacradas, cheio de segredos. Os leitores que não querem saber como serão os próximos episódios não devem abrir o lacre. O especial, assim como o seriado, estará recheado de pequenas surpresas escondidas, feitas sob encomenda para os leitores mais atentos.Enfim, é um grande guia feito para aumentar a interação e a compreensão do leitor sobre a série.



Comprei. R$ 14,95. Coisa de viciado, mas enfim, a leitura está legal. Recomendo pra quem realmente gosta.

Construsul

Indiada maior é difícil

Pra começar, chegamos no terminal Parobé lá pela uma e meia, nos deparamos com uma fila quilométrica: deu pra duvidar que caberíamos todos. Ai foram 20 minutos de apertamento até a fiergs. A feira estava engraçada, muitos catálogos, algumas poucas novidades, alto padrão, e até coisas de mais baixo nivel, como acotovelamentos no estante da lorenzeti onde duas loiras tomavam banho coreografado no ultimo lançamento da linha de duchas (um sarro).

Depois, duas palestras canceladas, um seminário que era completamente fora do esperado, meia hora de espera numa parada a beira da auto-estrada com o pó alto, mais tempo até o centro, e diálogos cômicos no busão. Uma dor de cabeça terrível de brinde, e tempo perdido.

Pra comprovar que as coisas sempre podem piorar, e muito.

Mas ainda assim continuo de bom humor.

Só sei que, à construsul, não volto tão cedo.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Il corso refinito ieri

Ontem acabou o italiano.
Saímos pruma despedida da turma, pois apesar de mais da metade continuar junto agora no segundo semestre (que começa dia 15), algumas pessoas estarão em outras turmas, em outros lugares.

Fazer uma lingua estrangeira é sem dúvida um privilégio de poucos (ainda que, neste caso, o valor seja bem em conta: 3 parcelas de sessenta e poucos reais no centro/rosário - ou oitenta e três se for na Sociedade Italiana) e vale muito: se conhece muita gente, pessoas diferentes e ao mesmo tempo muito parecidas, com interesses parecidos, é uma experiência e tanto.

O curso intensivo é muito puxado, ainda mais para quem trabalha o dia todo: não se tem tempo e estudar a lingua extra aula, e a carga de conteudo dado é muito grande: em 16 dias passamos um livro de aproximadamente 100 páginas, muitas tentativas de conversação (pode-se dizer que nesse primeiro nivel seja mais uma coisa de pronuncia solta) e noites de sono ferrado pelo cansaço do dia-a-dia.

Acabei me dando muito bem com o italiano. Tive um aproveitamento de 100%, ainda que sinta a necessidade de estudar um pouco mais alguns conteúdos vistos. E decidi que assim que chegar num nivel melhor, partirei para a quarta lingua da lista, provavelmente francês - ou espanhol (ou ainda polonês, que segundo uma prima tem de graça na braspol).

Neste semestre que encerra 2006 continuo cursando a língua dos meus antepassados, duas vezes por semana, aulas de uma hora e meia (e isso tudo sem concorrer com mil e uma pessoas nas poouquissimas vagas do nele).

Enfim, era pra ter falado de outras coisas, quando cheguei (ontem) estava especialmente inspirado, com vários assuntos que processei na caminhada pra casa, mas acabei vencido pelo cansaço. Fica pruma próxima. Abraços e ótimo final de semana pra todos. Um final de semana de construsul, ao menos pra mim e pra Tita.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

O dedo de Deus

As voltas pra casa sempre são produtivas: posso viajar sem alucinógenos

Hoje presenciei uma cena egoísta, que me deu algumas idéias:
Se eu fosse um deus (com d minúsculo, obvio) criaria uma ferramenta humana coletiva, uma espécie de vingança divina, e chamaria de dedo de Deus (originalidade off)

Então sempre que alguém fizesse alguma malvadeza - descarada, desaforada, exagerada -
em nome de egoísmo ou outros sentimentos negros, qualquer outro que estivesse vendo poderia se munir desse dedo e punir, sem dó, com o pior dos castigos (pro momento).

Estariamos num mundo bem melhor...

Essa falta de fé e medo de punição divina, póstuma ou não, talvez seja uma das maiores dádivas (em certas questões) que o ser humano está alcançando. Mas ao mesmo tempo abre mão da compaixão, que nos falta, e que faria um bem talvez maior pra sociedade.

Amanhã explico...

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Europa Brasileira?

Este final de semana fomos - eu, mari, alex e ana - pra Gramado e Canela.
O frio de 2 graus, o vento cortante e um sol de quase primavera davam às cidades uma cara praticamente européia. Compramos chocolate, passeamos bastante, fizemos outras pequenas compras, tomamos café colonial, enfim, tudo de bom que se faz na serra.

Reclamações? Sim, obvio... a cidade é muito cara, muito oportunista, se paga até pra ir no banheiro. Óbvio que minha reclamação é de pobre, e de sulista, afinal ter nascido na serra tira metade do charme que ela tem pra quem vive no calor, ou mesmo um pouco mais longe desse clima todo, mas ter charme europeu não significa que precisa ser assim, tudo cobrado, muito menos que os preços precisam ser em euro.

E olha que a reclamação nem é pela gente, porque fomos tranquilos (na medida do possível), mas por várias situações onde vimos guias explorando descaradamente pessoas de mais longe, e que, obviamente, até vem preparadas pra pagar por cada floco de neve (ainda que seja de isopor).

Enfim, uma dica boa prestes dias onde o inverno voltou a dar as caras, ainda que tenha alguns contras. Boa semana!

quinta-feira, 27 de julho de 2006

...

O vulto captado pelo canto do olho
e que quando você vira nunca está lá
será um raio de luz, ou uma sombra de morte?

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Privacidade

"Privacidade é o controle que alguém tem da informação sobre si. Alguma informação - o nome, por exemplo - damos a qualquer um. Outras, o telefone, para quem conhecemos. Coisas como a localização de nossa casa, para amigos. Estamos sempre equilibrando a gerência de cada informação pessoal. A amante que conhece a nudez, mas não o endereço; a faxineira que conhece a casa mas não a profissão; o amigo que sabe quase tudo, mas não aquele segredo. Na escolha de quem saberá isto ou aquilo, definimos graus de intimidade. Esses graus é que sustentam nossas relações, é que definem coleguismo, amizade, amor. Nessa definição, se perdermos o controle sobre esse tipo de informação, perdemos individualizade, escolhas: a identidade se vai.

.:*:.

Das compras do supermercado aos cadastros que criamos em vários locais (academias, escolas, sites de relacionamento), damos informações para os mais diversos bancos de dados que, se cruzados e utilizados corretamente, podem revelar muito mais sobre a nossa vida do que poderiamos imaginar. Sem falar da possível espíonagem eletrônica que - mito ou realidade - ronda a internet, os emails, blogs e coisas assim.

Acabei de ler uma reportagem da super sobre privacidade em público: coisas como localização rápida e simples via celular e uso indevido de dados que nós mesmos fornecemos e que acabam vendidos ou trocados pelas empresas/governos e servem - por um lado bom - para facilitar nossa vida e promover benefíciose facilidades ou - por um lado completamente maligno e inescrupuloso - para influenciar nosso comportamento e invadir nossa intimidade.

Sei que muita coisa pode ser neura, mas a ficção científica nem sempre está tão longe assim das possibilidades da vida real. Sempre há - ou poderia haver - alguém de olho na gente. Tomem cuidado...

Boemia

Curiosamente minha personalidade - ou melhor: minha vontade - anda com uns traços boêmios que eu desconhecia. Que será isso?

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Inspirado em Caio (ou seria Nerson, o Rodrigues...), uma constatação da volta chuvosa de hoje (da aula noturna de italiano:)

As putas não trabalham quando chove....

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Divórcio

*porque vingança é um prato saboroso, ainda que quente...

Pé de pato, mangalô, três vezes

Esse final de semana provou uma coisa: preciso me reconciliar com o acaso, com a fortuna, a sorte. Ontem há noite preguei um amuleto de proteção na porta de casa, a agora penso em comprar uns pés de coelho ou ferraduras, trevos da sorte ou outros pequenos talismãs de proteção da integridade física e econômica: passei por diversas provações nestes ultimos 2 dias dignas de um David.

Não que eu sempre tenha acreditado nisso, mas as vezes é a única explicação: Tem gente de olho gordo na minha vida!!! Que raiva, tudo que podia dar errado, deu, e tudo comigo. Terei jogado pedra na cruz numa encarnação passada?
E agora uma dor de cabeça dos infernos tomando conta devagar, pra me deixar inutilizado na minha prova d'agora a pouco. Será que despacho, passe ou benzedura, funcionam?

sábado, 22 de julho de 2006

Sexta a noite

Mistura de sono com vontade de sair e dançar até não sentir mais os dedos dos pés.
Estranho voltar pra casa do Italiano e ver movimento intenso nas ruas.
Gente arrumada, alinhada, dentro dos carros engarrafados em fila.
Esperando para passar nas ruas repletas de bares que fervilham pela noite de cidade.
E esse calor de primavera, que não cansa e não esgota.
E a leveza de um sábado sem trabalho, apenas descanso, e paz.
Nem sei se ainda sei o que é isso.
Dormir sem despertador, sem preocupações na cabeça.
É, talvez a cama seja a melhor saída pra essa primeira noite: aliviar as olheiras profundas que ando cultivando nesses dias.
Assim que conseguir largar o livro...

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"...pertencia àquela espécie de gente que mergulha nas coisas às vezes sem saber porque, não sei se na esperança de decifrá-las ou se apenas pelo prazer de mergulhar. Essas são as escolhidas - as que vão ao fundo, ainda que fiquem por lá. " (Caio fernando Abreu)

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Bom final de semana a todos!

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Dia do Pulo, e do Amigo

*Multipost???............. Concerteza!!!!

Primeiro
hoje as 7h 39min e 13 seg, você pulou?

Hoje é o dia do pulo (quase pretérito). O "World Jump Day". Pontualmente às 7h39 e 13 segundos, pelo horário de Brasília, os organizadores desse evento planetário planejaram fazer 600 milhões de pessoas pularem simultaneamente. Isso, segundo eles, causaria uma mudança na órbita da Terra que eliminaria os efeitos do aquecimento global.

Eu dormi, infelizmente. Não colaborei com a idéia, mas exatos 600.248.012 pessoas confirmaram o pulo no site. Pra quem ainda não viu tudo...

Segundo
Não sei exatamente da história da data, se existe em outros países e tal, mas dia 20 de julho é o dia do amigo. Não que eu creia que precise de um dia específico pra essa que é a melhor categoria de relacionamento humano (e talvez até extra-humano), mas sem dúvida é bom receber algumas mensagens, e mandar outras com felicitações pela data.

Na verdade, tenho muitos amigos, todos eles com um lugar único e bem determinado aqui dentro, e que mesmo que as vezes esteja distante, ou não manifesto, eu sei - e espero que eles saibam e sintam o mesmo - que a amizade permanece intacta.

Carpe diem

Gerundismo

Ele é só um dos itens que me angustiam entre os diversos assassinatos da lingua portuguesa que ouço diariamente. E como fica tosco dizer: eu estarei enviando, nós estaremos telefonando...

É como ir indo, vir vindo, estar fazendo (e nunca é por linguagem poética ou proposital).

Será tão difícil usar mais do que uma combinação de futuro com gerúndio?
E pra que servem os demais tempos verbais? ou os demais verbos?

Sei que sou imperfeito, que erro, que peco, que não sei tudo.
Mas procuro, sempre que possível, me atualizar.
E não me incomodo se alguém me corrige: é um jeito de aprender.

Mas o mundo à minha volta anda exageradamente tosco.
Engraçado como as pessoas se preocupam tanto em aprender corretamente as línguas estrangeiras (claro, senão não há a comunicação) e pecam tanto com a lingua nativa.

Um quê de burrice, com certeza.

ps.: esse post continha erros e foi editado ...

Um pouco do Ofício

Pra quem não sabe (alguém não sabe?), apesar de gostar tanto de ler e de escrever, meu mundo gira em torno de várias outras coisas: a arquitetura e, nesses tempos de vacas mais magras, a computação gráfica. Resolvi fazer jus ao nome (do blog) e publicar aqui algumas das coisas que produzo.
Pois por mais que exista o blog da RADAR (que na verdade anda muito muito parado em função do meu limbo e no nosso - meu e da Tita - corso dell'Italiano), gosto de divulgar algumas coisas pequenas que crio (ou simulo pra outros criadores). Fica um trabalhinho trabalhoso, destes ultimos tempos. O projeto não é meu, nem sou muito fã do estilo. Mas a imagem ficou bem interessante...

Entrelinhas

É perigoso não usar máscaras num baile de carnaval.

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Caio (Fernando Abreu), pra variar.
Morangos Mofados é o terceiro livro que leio.
Já tinha encontrado vários contos perdidos pela net, mas físicos, no papel, até agora foram apenas três livros:
Pedras de Calcutá, mais inocente, mais pudico (talvez)
O Ovo Apunhalado, o mais surreal
E agora Morangos Mofados

Esse é sem dúvida o mais denso, mais pesado.
Sem rodeios, sem poupar qualquer coisa.
Forte, mas talvez carregue os melhores contos.
Interessante, pra que gosta do estilo.

Para ler ouvindo Beattles

quarta-feira, 19 de julho de 2006

O Senhor das Moscas

* por MÁRCIO SENNE DE MORAES

"O Senhor das Moscas", o primeiro romance do britânico William Golding (1911-1993), publicado em 1954, é uma extraordinária investigação sobre a natureza humana. Ele descreve detalhadamente os aterrorizantes feitos de um grupo de crianças que, abandonado à sua própria sorte numa ilha, faz uma fulminante transição da civilização à barbárie.

O livro, considerado um clássico da literatura moderna, expõe uma visão pessimista do ser humano. Ele busca mostrar que o homem é inseparavelmente ligado à sociedade e que, sem ela, o retorno à selvageria, ao estado de natureza hobbesiano, é um passo incontornável no destino da humanidade.

O pessimismo do autor e sua descrença na natureza humana tiveram origem em suas experiências pessoais. Após publicar uma coletânea de poemas em 1934, Golding, que estudara na Universidade de Oxford, alistou-se na Marinha Britânica em 1940 e, em seguida, conheceu os horrores da Segunda Guerra Mundial.

A guerra, segundo o próprio escritor, mudou bastante seu modo de ver o mundo e a vida. Depois do conflito, Golding não conseguia mais acreditar na inocência do homem. Para ele, nem mesmo as crianças são inocentes, e a inocência só se manifesta no ser humano quando a sociedade e o cotidiano social o compelem a fingir ser inocente. Ou seja, trata-se de algo planejado ou estudado para atender às exigências sociais.

Contudo, às vezes, quando se vê diante de uma situação complexa (a necessidade de sobreviver num ambiente inóspito no caso de "O Senhor das Moscas"), o homem deixa transparecer sua outra natureza, uma repleta de mistérios e de culpa. Assim, diferentemente do "bom selvagem" de Rousseau, o homem no estado de natureza é, para Golding (a exemplo do que pensavam Hobbes ou Locke), movido por seus instintos mais sombrios, buscando vantagens pessoais, não o bem do microcosmo em que está inserido.

Para demonstrar como tudo isso, na prática, afeta um grupo de crianças perdidas numa ilha, o autor faz uso de símbolos e de imagens. Com isso, dois dos protagonistas, Ralph e Jack, são personagens totalmente antagônicos. O primeiro representa o desejo de viver num sistema democrático, baseado na ordem. Já o segundo encarna a selvageria e a anarquia.

Outro artifício usado por Golding, que recebeu o Nobel em 1983, é o formato da ilha. Ela tem a forma de uma embarcação, um antigo símbolo de civilização. Ademais, a água em volta da ilha parece correr para trás, dando a sutil impressão de que a civilização esteja regredindo na ilha, levando consigo seus habitantes.

Vale lembrar que a tarefa do grupo de crianças é hercúlea: sobreviver num local hostil sem grande esperança de um resgate por parte "dos adultos". Magistralmente, Golding descreve como a veleidade de construir um ambiente coeso rui com o passar do tempo, conforme as crianças vão se libertando das amarras da civilização.

Assim, para o autor, a sociedade constitui o elo que propicia certa coesão, e suas amarras são uma condição "sine qua non" para a vida em grupo. Afinal, sem elas, ideais, valores e até a diferença básica entre o certo e o errado acabam desaparecendo. Sem limites claros e bem estabelecidos, a anarquia e a barbárie triunfam.

Ademais, na fantástica narrativa de Golding, a moral individual advém do meio em que os personagens estão inseridos: se não há civilização em torno do ser humano, ele sucumbe ao que há de mais obscuro dentro dele, deixando de lado seus valores "mais profundos". Leitura imperdível para os céticos, para aqueles que ainda não perderam a esperança no futuro da humanidade e, sobretudo, para todos os que se encontram entre os dois extremos.

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Ok, é uma resenha sensacionalista, mas ainda assim deu vontade de ler o livro.
Curioso...

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Nesses dias

*inspirado numa conversa de fim de tarde

Estive um tempo distante, no limbo. De tempos em tempos, minha vida funciona assim: alguma coisa me tira da rotina normal, me obriga a viver de um jeito todo próprio, distante, exigindo mais do que eu gostaria de dar, mais do que eu poderia. Não reclamo. Isso é a minha vida. Ainda que complicada, que difícil, ela é muito boa. E é minha.

Hoje tive alguns minutos de folga. Minutos de conversa que eu não tinha faz tempo. Reflexões que me abandonaram nestes dias de limbo, de esquecimento. Falei de mim, de ti, de todos nós. Falei do mundo, das coisas e das pessoas. Descobri mais e mais palavras que me traduzem, outras que eu gostaria que traduzissem. Quem sou eu? Quem somos nós? Porque tudo isso?

Estou nos meus dias de reflexão. De questionamento. Há quem vá dizer de depressão? Por mais que tudo esteja bom, caminho na volta do trabalho pensando no que não foi, no que não aconteceu. Sinto falta de poder viver mais e mais e mais intensamente, mais de perto, mais junto, mais diverso. A minha grande angustia da vida é que o tempo passa e um dia a morte vai chegar e me levar, e interromper o meu desenrolar nesse mundo. Sinto saudade daquilo que não tive, das pessoas que não conheci, das experiências que não vivi. Tenho no peito a angústia da infelicidade. De querer sempre mais e mais e mais do que tenho, de querer tudo o que talvez não terei, pois ninguém tem tudo. Mas ainda assim sou feliz. Sei decidir a cada dia que a minha vida é bela, é colorida e intensa. Não sei mais o que é uma vida morna. Não sei mais o que é a espera. Só consigo perceber que o tempo passa, e passa e cada vez mais temo a lâmina que um dia chegará e acabará com tudo.

Acho que hoje foi a primeira vez que me dei conta disso. Já fui desapegado das coisas. Já fui compreensivo com a hora da partida. Sempre tive a certeza de que ia conseguir olhar pra trás e ver mais prazer que dor, mais alegrias que tristezas, mais sim do que não. Hoje penso que mesmo todos os sins ainda serão insuficientes. Mesmo todo o prazer, todo o conhecimento, tudo será insuficiente.

"Fôssemos infinitos/Tudo mudaria/Como somos finitos/Muito permanece."

Maldita finitude humana. Maldita paixão pela vida. Pelas coisas. Pelas pessoas.
Mais pelas pessoas. Muitas pessoas. Muitas paixões. Mais pelas palavras. Por essa sensação de ler ou ver ou ouvir aquilo que queríamos ter a genialidade de ter dito, de ter pensado, de ter criado. Ando me sentindo assim esses dias. Invejando – mas uma inveja boa, que acende o peito e amorna as idéias – várias pessoas. Invejando o brilho ofuscante, as mentes, os jeitos, os gênios. Descobrindo minúcias nas mais diversas personalidades. Descobrindo que um olhar, uma conversa, uma troca de palavras num mundo virtual que jamais imaginei possível, possa revelar tanto das pessoas, possa me revelar tanto, pra mim mesmo.

Enfim, estive distante nesses dias. Talvez fique distante amanhã, e domingo. Preciso agora uma volta às raízes. Uma viagem de volta a casa em que nasci, reencontrar meus pais, resgatar algumas coisas que deixei vagando, no limbo, em todos esses dias, resgatar aquilo que sou e que não posso e não quero esquecer. Resgatar algumas pessoas que amo, e conheço, e sinto muita saudade. Mas eu volto. E espero, na volta, voltar também a escrever.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Catálogo de objetos impossíveis

Dica de blog curioso: a página de Jacques Carelman. Ele compôs um catálogo de 400 objetos impossíveis.

É um repertório de genialidades que, através da criatividade de Carelman, se transformam em outros tantas propostas extravagantes, grotescas, inúteis, filosóficas, estúpidas, poéticas... Todas, igualmente, engenhosas.

A explicação que o autor dá a tudo isso é que faz parte de um jogo onde se mesclam humor e criatividade. Bastante curioso.

Confira Aqui

(via: Antena Paranóica)

sábado, 8 de julho de 2006

Devaneios

Há vários dias venho trabalhando num ritmo alucinado e acho que só hoje, depois de uma pequena pausa pra colocar pensamentos em dia e organizar um pouco a vida, senti o cansaço acumulado se apoderando de músculos e ossos e neurônios.

É como se eu tivesse uma salvaguarda temporária, que acabou hoje as 5:00 da manhã, e de uma hora pra outra as coisas se invertessem de uma tal maneira que tudo o que eu gostaria de fazer seria fechar os olhos (aqui mesmo, sentado...) e apagar, desligar por completo, do mundo, do trabalho, de estar presente.

Infelizmente ainda tenho mais três ou quatro dias desse ritmo.
Fico em dúvida se vou aguentar. Minha cabeça está gradativamente enfraquecendo, a memória está cada dia pior, o raciocínio lento, tudo o que funciona são comandos pré-programados que me permitem fazer meu trabalho na medida do possível.

Agora releio o texto e vejo que é uma chata lamentação. Ódio disso.
Nestes últimos dias (ou semanas) andei percebendo vários defeitos meus, e várias características viciadas do meu comportamento. Não sei se é coisa de momento, ou traços definitivos, só o tempo dirá.

Ganhei faz pouco um espelho que reflete minha personalidade, e me deixa ver como tenho manias, como julgo as outras pessoas com frequência, como falo sozinho e desconexo.

Sim, falo sozinho, muito.
Talvez porque tenha deixado de escrever aqui - a maldita falta de tempo.
Então os pesamentos ecoam na minha cabeça e, sem encontrar qualquer anteparo que os absorva, saem em voz alta.

Também ando sem paciência. A paciência deve ser uma virtude que esgota-se com o cansaço.
Ou com a insistência.

Mas não perdi a felicidade, ou talvez deva dizer a alegria, de estar nessa empreitada toda: estou radiante, com um sorriso bobo e ao mesmo tempo enigmático, que nem eu mesmo consigo decifrar ao me olhar no espelho. Vai entender....

eu não entendo. Bom final de semana a todos.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Ausência

Post informativo:

Meu final de semana foi péssimo, fiquei adoentado desde sábado ao meio dia, ainda assim tendo que trabalhar, e isso me deixará afastado da web até me recuperar por completo (estou melhor, mas ainda não bem).

Provavel que mais um ou dois dias já resolvam, abraços e boa semana a todos!

sábado, 1 de julho de 2006

Both sides now

Joni Mitchell.
Desde a primeira vez que ouvi essa música achei letra e melodia encantadoras.
Tem um quê de tristeza, mas muito de sobriedade em relação a vida. Hoje tive alguns pensamentos que desejei traduzir em palavras. A minha vida anda assim: uma ânsia sem tamanho de traduzir as coisas, mas faltam termos no meu dicionário. Escrevi duas ou três linhas, reli, e percebi que alguém já tinha dito tudo aquilo, em versos e notas.

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"But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say Ive changed
Well somethings lost, but somethings gained
In living evry day

Ive looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
Its lifes illusions I recall
I really dont know life at all
Ive looked at life from both sides now
From up and down, and still somehow
Its lifes illusions I recall
I really dont know life at all"

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Varda que bello

ora sono registrato un corso intenso di italiano

.:*:.

Enfim, é o que consigo escrever (com ajuda da Tita e da internet, obvio, que sozinho não sei muito ainda) . Pra quem não conhece: o curso de italiano intensivo é da Associação de Cultura Italiana do Rio Grande do Sul, baratinho, dura 3 semanas, e já deixa a gente pronto pro extensivo de nivel seguinte que vai de agosto a novembro! Em uns 8 meses já estarei falando bem!

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Caio, de novo.

"O que eles deixaram foram três postulados: importante é a luz, mesmo quando consome; a cinza é mais digna que a matéria intacta e a salvação pertence apenas àqueles que aceitarem a loucura escorrendo em suas veias."

(...)

*Caio Fernando Abreu - Eles

Knots

"They are playing a game. They are playing at not playing a game. If I show them I see they are, I shall break the rules and they will punish me. I must play their game, of not seeing I see the game."

- R. D. Laing

quarta-feira, 28 de junho de 2006

Pupila

How many times in your life did you look directly in the eyes of strangers?
Weren’t you afraid that they looked back and saw you soul through the cracks in the mirror?

.:*:.

Os olhos são espelhos quebrados
que aprendemos (alguns de nós)
a consertar com o tempo

Quanto mais trincos, mais rachaduras
Mais o interior se revela

Quando olhamos nos olhos de uma pessoa
o que vemos é sempre uma mistura
entre a alma dela, vista pelas frestas
E o reflexo de nós mesmos.

terça-feira, 27 de junho de 2006

The truth about Sally Can Dance (and The Kids)

(Mais uma do Caio ---> *trecho)

"A sanidade parece repousar amplamente, hoje, na capacidade para adaptar-se ao mundo exterior - o mundo inter-pessoal e o reino das coletividades humanas. Como esse mundo exterior humano está quase completamente separado do interior, toda percepção pessoal já apresenta graves riscos. Mas desde que a sociedade, sem saber, encontra-se esfaimada pelo que há de interior, as exigênciaspara se evocar a sua presença de maneira "segura", de modo que não seja preciso ser levada a sério, etc. são tremendas, e a ambivalência igualmente intensa. Não admira que seja tão grande o número de artistas que naufragaram nesses rochedos nos últimos 150 anos - Hölderlin, John Clare, Rimbaud, Van Gogh, Nietzsche, Antonin Artaud. Os que sobreviveram possuem qualidades excepcionais - capacidade para o segredo, o disfarce, a astúcia."

.:*:.

Lembra (em muito) alguns posts atrás.
Não é exatamente do Caio, mas (segundo a citação) de R. D. Laing, A política da experiência.
Mas fundamenta outra parte importante e interessante do conto, e fala muito.
Enfim, mais um livro acabado. Que bom, quero ler outro!

Esquecimento

Podia perceber seu estado pelos vasos de plantas que tinha em casa. Quando murchavam de sede, era porque andava esquecendo de si mesmo.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

Uma história de borboletas

frase perdida (LaoTse) no meio do conto...

"- Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais."

Ah, que maravilhosa e ao mesmo tempo desoladora a capacidade de dar mil sentidos figurados a uma unica expressão!

A Legião Estrangeira

Amor é quando é concedido participar um
pouco mais. Poucos querem o amor, porque
o amor é a grande desilusão de tudo o mais.

Clarice Lispector

O que a globo não mostrou



Nada a acrescentar...

Desabafo

Esse final de semana foi péssimo.
Ainda que internamente as coisas estejam bem.
E tudo culpa da irresponsabilidade de outrem.
Porque será que as pessoas são assim?

Explico

Trabalhei de sexta a domingo
Quase sem parar
Por culpa da esculhambação alheia

O engraçado:

Sempre tive vergonha de entregar coisas "nas coxas"
Sempre dei o melhor de mim
principalmente quando as coisas envolviam outras pessoas

Por isso acho que desenvolvi um certo ódio
Por pessoas irresponsáveis e pouco profissionais

Só espero que a vida realmente devolva tudo o que se faz
Multiplicado por três.

sábado, 24 de junho de 2006

Quem sou eu

"Lives, loves, dies, writes, draws, tries, fights, cries, yells, sleeps, thinks, fucks, sighs, moans, smiles, laughs, listens, adores, procrastinates, talks, sings, loves, encourages, helps, kills, if necessary."

.:*:.

... do blogger profile de Mme. A.
Achei bem criativo.

sem rumo



A humanidade anda estranha
hoje em dia o leito das ruas
também é leito de camas.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Roleplay

Hoje, de novo, algumas idéias me ocorreram, dessa vez no banho.
Tenho a sensação que quando consigo esvaziar minha cabeça de qualquer atividade, o fluxo de pensamentos ganha vida independente e chega a conclusões próprias e não pretendidas.

Já me dizia esses dias um prezado amigo: quanto menos coisas na cabeça, mais ela consegue criar. Certamente não era uma questão de repertório, mas de ocupação e cansaço emocional.
Tudo um equilíbrio entre ócio e ofício (c).

Enfim, o assunto é outro: Comportamento humano.

As pessoas agem do jeito que realmente desejam?

Minha opinião: a maioria nunca se revela completamente.
Na verdade o comportamento humano é extremamente definido pela aparência que queremos ter, pelo que queremos ser, e os grupos aos quais almejamos pertencer.

Assumimos um papel e tentamos interpretar. As vezes é o nosso papel, um papel fácil, tiramos de letra, noutras algo além da nossa capacidade.

O que ganhamos ou perdemos com isso? Rótulos. Por isso às vezes as pessoas pegam um papel que não é delas. Receber um rótulo desejável é ótimo. Receber um indesejável, terrível. Não receber nenhum, ofensivo.

Então as vezes é melhor enganar.
E como diz o ditado, você pode enganar muitas pessoas por pouco tempo, algumas pessoas por algum tempo, ou poucas pessoas por muito tempo. Faltou dizer que pode enganar a si mesmo por toda a vida.

Será que a troca vale a pena?

Essa sensação big brother me lembra de uma música do capital inicial, bobinha, mas que toca na ferida - quatro vezes você:

"O que voce faz quando
Ninguém te ve fazendo
Ou o que voce queria fazer
Se ninguém pudesse te ver"

Enfim, reflexões perdidas em mais uma noite fria.

Pedras de calcutá - Parte II

"E tudo é proibido. Então, falamos."

Carlos Drummond de Andrade, "Certas Palavras"

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Sim, cheguei na metade do livro, e isso que o tempo me falta (ando trabalhando feito escravo de mim mesmo). Fica o início da parte II

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Mergulho II

Na primeira noite, ele sonhou que o navio começara a afundar. As pessoas corriam desorientadas de um lado para outro do trombadilho, sem lhe dar atenção. Finalmente conseguiu segurar o braço de um marinheiro e disse que não sabia nadar. O marinheiro olhou bem para ele antes de responder, sacudindo os ombros: "Ou você aprende ou morre". Acordou quando a água chegava em seus tornozelos.

Na segunda noite, ele sonhou que o navio continuava afundando. As pessoas corriam de outro para um lado, e depois o braço, e depois o olhar, o marinheiro repetindo que ou ele aprendia a nadar ou morria. Quando a água alcançava quase sua cintura, ele pensou que talvez pudesse aprender a nadar. Mas acordou antes de descobrir.

Na terceira noite, o navio afundou.

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Engraçado como esse conto me lembra de uma conversa, hoje durante o almoço, com a Tita!

Redenção

Okay, eu disse que sabia que mais cedo ou mais tarde teria que calar a boca (era apenas pressão convencional, hahaha). Brasil 4 x 1 Japão, meu palpite era de 3x1, pena que saiu mais um gol (pra mim, obvio!).

Sobre o Ronaldo, é mesmo fenômeno. Perdeu 4 quilos e meio presse jogo, e mesmo mais lento, fez dois gols, equiparando-se ao miller na artilharia de todas as copas (e ultrapassando pelé?). Enfim, palmas pra ele, no fundo, eu invejo: ele faz o que gosta, é milionário, conhecido mundialmente e mesmo gordo sempre dá a volta porcima, hehe, que inveja!

Desfocado

Ontem cheguei a uma conclusão, uma tradução, pra essa palavrinha que é o melhor e o pior de mim.
Quando deitei e não consequi adormecer rápido, apesar do sono e do cansaço físico, algumas conclusões surgiram do nada na minha cabeça.

Não sou capaz de focar em nada. Não tem a ver com concentração (se bem que, obviamente, ela também não é das melhores). É uma questão de entrega, de dedicação.

Quando estou inserido num contexto, numa situação, as coisas funcionam perfeitamente.

Mas se não tem essa referência externa, essa necessidade de focar, de me dedicar, me perco.
Quero tudo. Faço mil planos. Quero mil experiências. Quero mudar de lugar, de cidade, de país, talvez até de planeta. Preciso ler e ouvir, preciso assistir, me comunicar, me sinto parte do todo e de lugar nenhum.

Será culpa da tecnologia? Dos nossos tempos?
Ou será que, só por isso, ainda não endoideci?

Difícil saber...

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Há pérolas em conchas tão simples

Lido Por Aí

"Porque ninguém pode saber por ti.
Ninguém pode crescer por ti.
Ninguém pode buscar por ti.
Ninguém pode fazer por ti o que tu mesmo deves fazer.
A existência não admite representantes."

Multiplos focos

Estou chocado!
Striptease as 20:30 da noite na TV aberta!
Okay, foi só até a lingerie, mas ainda assim, que abuso!
Não que a visão não tenha sido boa, mas convenhamos, é um puta exagero.

.:*:.

As vezes me sinto idiota por pertencer ao grupo "homens" da humanidade.
Certo que generalizar as coisas não é o melhor caminho, mas esse meu sentimento fica dentro do "vergonha por solidariedade". Ou será que devia me sentir idiota por fazer parte do quesito "humanidade"?

Talvez...

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Falando nisso, estava lendo ontem o FAQ sobre o sentido da vida (encontrado no Martelada).
Como alguém se presta a escrever isso? Todo mundo sabe que o sentido da vida é 42!

Gozações nerds à parte (se for possível deixar o lado nerd à parte ao falar de um texto assim), achei interessante:

"Our role in the cosmos is to become or create our successors"

Estou mais pra total aniquilação da espécie, em algumas centenas de anos (se durarmos tudo isso).
Ainda bem que até lá eu (espero) não fazer mais parte desse mundo.

Deprê? Pessimismo? Não, realismo. Dá medo ver o rumo que a nossa espécie tomou.
Mas enfim, vou ali trabalhar mais um pouco, enquanto os pensamentos ainda fazem algum sentido... até!

Chegada Anunciada

Hoje começou o inverno. E parece que ele fez questão de se anunciar, com toda a força.

Aqui em Porto Alegre o dia esqueceu de amanhecer, e o céu despencava sobre a cidade. Só começou a clarear quando eu já estava há mais de hora trabalhando, e o frio - que no início da manhã ainda não tinha chegado - está a cada hora mais intenso.

Eu gosto do inverno, gosto de frio, e chuva.
Mas certamente preferia estar numa cama quente e preguiçosa a estar aqui, trabalhando - e tremendo - todo molhado de chuva...

Enfim, boa chegada ao inverno.

Quem - como eu - curtir sopa, quentão, pipoca e programas típicos da estação, mande um sinal de fumaça e quem sabe programamos alguma coisa!

terça-feira, 20 de junho de 2006

Da orelha do livro

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá.
Solta. Sozinha. Quem repara nela?
Só eu, que nunca fui lá,
Só eu, deste lado do mundo, te mando agora este pensamento...
Minha pedra de Calcutá

Mário Quintana, trecho de Diário

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Assim começa Pedras de Calcutá (a página de rosto), a terceira coletânea de contos do Caio Fernando Abreu.
Hoje estou, sem dúvida, inclinado à literatura. E já que o arquivo da cliente não chegou preu trabalhar até tarde, deixa eu partir pra minha cama pra continuar na leitura! Boa noite...

fica mais um trecho...

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Parte I

Tudo é divisão. Esquizofrenia. Drama.

Luís Carlos Maciel.

Conselhos

Deixe as raizes pras árvores
Crie asas. o Céu é o limite.

F. Pessoa

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe uma paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Neuroses

Estava lendo uma comunidade qualquer do orkut (depois de trabalhar das 8 as 8, eu precisava de uma folga enquanto esperava o render acabar) e me deparei com reflexões interessantes:

1. A realidade é uma soma de dois fatores desproporcionais: ela mesma (em menor quantidade) e a maneira como encaramos. Obvio e claro: as mesmas coisas podem ter reflexos diferentes em olhos diferente. Ou nos mesmos olhos mas em momentos diferentes.

2. Nossa mente desenvolve mil e uma neuras que atrapalham essa percepção da realidade.

Cada pessoa olha prum fato isolado e capta apenas informações direcionadas. E a nossa cabeça tende a nos colocar no centro do mundo. Isso faz com que a maioria dos fatos do nosso dia a dia, por mais desvinculados que possam ser, sempre pareçam indiretas da vida.

E com isso perde-se a capacidade de ler as entrelinhas dos aconteciemntos: o foco no eu é tão grande que só conseguimos ser obvios pra nós mesmos. E em geral desentendemos o obvio do outro.

Por isso, se eu pudesse escolher uma habilidade estraordinária, ia querer ler os pensamentos dos outros.

Já imaginaram isso? saber o que as pessoas pensam? desarmar as farsas? Entender o implícito?

Ao mesmo tempo, seria um grande risco de perder-se na confusão alheia. Pobre de quem tentasse ler os meus pensamentos: ia, no mínimo, tentar me internar.