quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Ausência esquecida

Estou um tanto assustado com a quantidade de tempo que não paro pra escrever aqui.

Mas eu explico: depois que mudei pra Radar, meu micro não está mais em casa.
E apesar de ter um estepe fajuto que funciona quase a manivela, fica difícil ter ânimo de ligá-lo - e enfrentar um monitor velho e piscante que corre o risco de queimar a qualquer momento - pra ficar confabulando sobre o que postar.

Sim, tive muitas idéias e insights todos esses dias, mas também tive muito trabalho, que impediu de escapar das responsabilidades para postar no horário comercial.

Mas daqui a dois dias começa o carnaval, e essa época de ócio nacional, férias e apatia (de trabalho) me deixa com lacunas.
Então estou aqui, escrevendo, e logo mais passo nos blogs próximos pra espiar e comentar.

.:*:.

Nestes últimos dias, numa sexta à noite qualquer, andei confabulando sobre as transformações que as pessoas passam ao longo da vida.
É claro que fiz isso avaliando a minha vida, é difícil conhecer outras pessoas tão a fundo e por tanto tempo a ponto de criar toda uma teoria sobre a vida delas.

Quem consegue visualizar a si mesmo 10 anos no passado?
Não fisicamente, nem em comportamento, mas nos anseios e desejos e crenças.
Quem é capaz de invocar os paradigmas que regiam sua própria vida, o que era importante, o que fazia bem, o que deixava mal?

Eu não consigo mais.

Mudei muito ao longo deste tempo.
Mudanças graduais, certamente, mas também mudanças muito pontuais.

Quem já chegou num determinado ponto da vida com a sensação de que queria uma vida nova? Quem trocaria sem muito pensar de lugar com outra pessoa, ou então - a lá hollywood - mudaria de identidade, iria prum lugar desconhecido e começaria tudo de novo, novo nome, novas ideologias, novas rotinas?

Eu já tive esse desejo, mas não a coragem pra levar até o fim.
Tive uma oportunidade à cerca de 2 anos de mudar tudo, abandonar o passado completamente e tomar novos rumos. Mudar de cidade (uns 3 mil quilômetros), com um salário estável e muitas possibilidades abertas.

Fracassei. Na realidade nem tentei fazer desse jeito.
Procurei uma saída mais leve.: mudei meu jeito de ser, de encarar o mundo, mudei a imagem que eu via no espelho, joguei fora as ideologias bobas que a sociedade pregava e me rebelei bastante contra muitas coisas que eu mesmo imaginava certas.

Consegui virar, em termos, uma outra pessoa. Quem me conhecia bem a fundo naquela época (eram pouquíssimas pessoas), sabe bem do que eu falo, de tudo que aconteceu.

Foi algo muito bom na época, porque eu detestava o que era e gostei bastante do que me tornei.

Às vezes ainda tenho a sensação de que sou um grande mentiroso, que me enganei e continuo me enganando a cada dia. Noutras eu sinto que ainda não cheguei lá, ainda não estou onde preciso, e que tenho que fazer mais.

Exemplos?

Descobri que nisso tudo, me tornei muito tagarela, muito aberto com o mundo.
Odeio isso.
Grande parte do charme e do poder das pessoas vêm do mistério de suas vidas.
Como posso surpreender alguém se tenho uma necessidade quase total de falar?
Será que consigo um ouvidor eletrônico, sigiloso?

Também ando infeliz com meu status de não deprimido.
Acho que sinto falta de refletir sobre a vida.
Ser deprimido é ser de uma das alas enfermas do mundo.
Mas é mais saudável quem finge estar sempre bem?

Às vezes desejo secretamente ser apático.
Pessoas apáticas devem ser muito melhor aceitas.
Pessoas como eu, que vivem no limite de tudo, que têm dificuldade de ficar quietas, recebem olhares enviasados dos outros.

Queria poder dividir a minha pessoa em personalidades distintas (e ando trabalhando nisso). Pessoas diferentes pra cada situação, que se portem diferente (okay, isso é fácil) , que sintam diferente (difícil), desejem diferente (impossível).

Acho que, novamente, está na hora de provocar algumas mudanças graves.
O maior problema é: se eu não gostar do resultado, será que eu consigo voltar?

.:*:.

E bom festival da carne pra vocês... =)