domingo, 19 de novembro de 2006

A melhor resposta

* texto da Martha Medeiros, e diz tudo

Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam.

Quem é você? Do que gosta? Em que acredita? O que deseja? Dia e noite somos questionados, e as respostas costumam ser inteligentes, espirituosas e decentes. Tudo para causar a melhor impressão aos nossos inquisidores. Ora, quem sou eu. Sou do bem, sou honesto, sou perseverante, sou bem-humorado, sou aberto - não costumamos economizar atributos quando se trata da nossa própria descrição. Do que gostamos? De coisas belas. No que acreditamos? Em dias melhores. O que desejamos? A paz universal.

Enquanto isso, o demônio dentro de nós revira o estômago e faz cara de nojo. É muita santidade para um pobre-diabo, ninguém é tão imaculado assim.

A despeito do nosso inegável talento como divulgadores de nós mesmos e da nossa falta de modéstia ao descrever nosso perfil no Orkut, a verdade é que o que dizemos não tem tanta importância. Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz.

Entre a data do nosso nascimento e a desconhecida data da nossa morte, acreditamos ainda estar no meio do percurso, então seguimos nos anunciando como bons partidos, incrementamos nossas façanhas, abusamos da retórica como se ela fosse uma espécie de photoshop que pudesse sumir com nossos defeitos. Mas é na reta final que nosso passado nos calará e responderá por nós.

Quantos amigos você manteve.

Em que consiste sua trajetória amorosa.

Como educou seus filhos.

Quanto houve de alegria no seu cotidiano.

Qual o grau de intimidade e confiança que preservou com seus pais.

Se ficou devendo dinheiro.

Como lidou com tentativas de corrupção.

Em que circunstâncias mentiu.

Como tratou empregados, balconistas, porteiros, garçons.

Que impressão causou nos outros - não naqueles que o conheceram por cinco dias, mas com quem conviveu por 20 anos ou mais.

Quantas pessoas magoou na vida. Quantas vezes pediu perdão.

Quem vai sentir sua falta. Pra valer, vamos lá.

Podemos maquiar algumas respostas ou podemos silenciar sobre o que não queremos que venha à tona. Inútil. A soma dos nossos dias assinará este inventário. Fará um levantamento honesto. Cazuza já nos cutucava: suas idéias correspondem aos fatos? De novo: o que a gente diz é apenas o que a gente diz. Lá no finalzinho, a vida que construímos é que se revelará o mais eficiente detector de nossas mentiras.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

5 Manias

Por culpa do Crime de Laio, segue uma corrente, não que eu seja fã delas, mas gostei da proposta: Minhas 5 manias - lembradas durante a manhã e - passíveis de publicação:

1. Ajustar o despertador para uns 20 minutos antes do horário que devo acordar, só para desligá-lo várias vezes e continuar me enrolando antes do ato definitivo...

2. Ter uma pilha de livros para ler muito maior do que a minha capacidade de leitura (por falta de tempo).

3. Fugir de quando em quando das minhas responsabilidades para respirar umar fresco, ler algumas páginas de texto ou outra distração de curto período.

4. Dormir com dois travesseiros, ainda que use apenas um deles de verdade.

5. Escrever cartas (as vezes e-mails, mas naquela formatação antiga...).

Agora eu deveria passar o desafio para 5 pessoas sob pena de mau agouro, mas creio que o simples exercício de repassar meu dia e minhas manias todas (quem conhece sabe que são muitas) já foi trabalho suficiente. Recomendo...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Viagem ao limbo

Como é de costume nesta época do ano, minhas malas estão prontas para partir pra longe. Não fisicamente, é uma maneira figurada: como se eu deixasse de existir hoje e só retornasse daqui a exatos 23 dias (numero cabalístico), uma espécie de exílio, que gera muitos frutos, muitas experiências, laços, fios de uma teia tecida ao longo de anos e com muita dedicação, mas cujo preço é total dedicação e um certo afastamento do mundo normal.

Parto agora, talvez ainda consiga mandar algumas mensagens breves, mas provavelmente será algo raro. É provavel que durante esses 23 dias estarei longe dos meios de comunicação mais usáveis - só ficarei de olho no meu email - e que sumirei dos blogs que leio com freqüência , mas é certo que retomo todos eles quando voltar. E espero encontrar as pessoas por aqui quando acontecer. Tenham boas semanas até lá!

domingo, 12 de novembro de 2006

espanto

"Mudar de personalidade, dar alguma guinada brusca na trajetória da vida parecia sempre ser um objetivo impraticável, nada mais que combustível para a ansiedade e a frustração, mas em gestos instantâneos como aquele um mundo inteiro de possibilidades se desenhava. Intervir no destino, de repente, parecia simples. Aos poucos, através de pequenos gestos desse tipo, quem sabe não conseguisse se transformar paulatinamente em outra pessoa, alguém menos calado, que conseguisse incorporar na trama da própria vida a belíssima violência das graphic novels coloridas, a virilidade e o magnetismo dos heróis de seus filmes favoritos, a fluidez selvagem das ações e palavras de alguém como... "

...
Daniel Galera, Mãos de cavalo
...

Maldita mania do ser humano buscar identidade ou semelhança (com a própria vida) nas coisas que lê ou vê a sua volta...

Feira do Livro

Hoje foi o último dia da feira do livro de Porto Alegre, e mais uma vez fico com a sensação de que não aproveitei exatamente tudo o que podia do evento - ou talvez o evento não tenha muito para se aproveitar.

Fora as seções de autógrafo e mais alguns acontecimentos que marcam oficialmente os lançamentos de certos livros na cidade - como o debate fabuloso entre Santiago Nazarian (Mastigando Humanos) e Cíntia Moscovich (Porque sou gorda, mamãe?) que presenciei no sábado de tarde - fica a impressão de uma feira comercial onde a maioria das bancas vendiam os mesmos livros e onde certas obras jamais encontrariam espaço - fosse pela pouca procura ou qualquer outro motivo capitalista do gênero.

Ou seja: mais uma feira do livro toda uniforme. Comprei poucas coisas, nenhuma delas literatura de ficção (uma pena, pois eu amo literatura de ficção), apenas um dicionário importado caríssimo e um livro sobre arte e design dos anos 70. Não que a vontade fosse esta: Ultimamente a verba para livros anda baixa, e combinando-se o fato dos preços não serem exatamente atrativos (quando será que minhas preces serão ouvidas e teremos mais levas de livros em papel jornal e formatação simples pra realmente permitir que o brasileiro leia mais?) a frustração foi quase completa. Quem sabe no ano que vêm!

A novidade da área é um grupo do yahoo para leitores de Porto Alegre, e uma comunidade do orkut para trocas de livros físicos provovidos via web - um sebo virtual. Se algém se interessar, sinta-se a vontade! E boa semana!

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Despreparo

O filhote de pássaro despenca cedo demais do ninho. Sem forças nas asas para voar e sem conhecimento suficiente para evitar as armadilhas e os predadores, está condenado. Estar preparado pro mundo nem sempre é uma opção.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Abraços...

"...
Quis saltar da cadeira e abraçar ela com força, mas já havia algum tempo tinha aprendido que abraços resolvem as coisas só temporariamente, depois não são mais lembrados. Abraços são impotentes.
..."

trechinho colhido (por motivos pessoais) de Mãos de Cavalo, do escritor gaucho Daniel Galera

sábado, 4 de novembro de 2006

Sonho Recorrente

Um quarto pequeno com as paredes pintadas de um branco suavemente amarelado. Uma única janela, fixa, dessas que chegam junto ao chão, sem portas. Da janela se extende até o horizonte uma paisagem sobre telhados. Me aproximo do vidro, quero ver o que acontece lá fora. Uma selva de edifícos me rodeia. A janela fica um pouco acima de todos os outros telhados. A paisagem é cinza, enferrujada. Colo a testa no vidro tentando ver o chão, mas só vejo formigueiros infindáveis de pessoas. Centenas de outras janelas. Vitrines de outras vidas. Me sinto num cortiço. Caos e desordem. Pequenices. Ajoelho no carpete também cinza ainda sentido o gelado do vidro contra a minha pele. Tento gritar. Estou preso aqui, neste quarto sem portas. Nesta vitrine da minha não vida. Penso em quebrar a janela pra fugir dessa jaula na qual não caibo. E acordo.

Será que eu aprenderia a voar?

Seminário

Pra quem curte ler, mesmo que não vá fazer o vestibular da UFRGS, vale a pena conferir esse seminário: análises profundas das obras, referenciando as características dos autores, o contexto na hora da criação e várias avaliações relevantes sobre os mais diversos aspectos. Os dois primeiros encontros já aconteceram, mas fica a programação pra quem se interessar pelos próximos três.



"A Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, através de sua Coordenação do Livro e Literatura, juntamente com os programas de pós-graduação em letras da UFRGS e da PUCRS, promove a terceira edição do Seminário Literatura para Além da Obrigação.

O Objetivo dessa atividade é proporcionar aos seus participantes um contato maior com a literatura através de exposições feitas por mestrandos e doutorandos que desenvolveram estudos e pesquisas sobre os autores e as obras que serão objetos das questões da prova de literatura da UFRGS e, certamente, em outras instituições.

Desejamos, portanto, que a participação nesse seminário seja útil para a resolução das questões da prova de literatura do vestibular, mas que, principalmente, vá além disso: permita àqueles que tomarem contato com as obras abordadas nos cinco encontros uma visão mais fecunda e, por isso, mais próxima dos sentidos contidos no texto literário."



Programação:

Hora: das 8h30min às 12 h00

28 de Outubro
  • Luís de Camões - Os Lusíadas (cantos I ao V)
  • Castro Alves - Espumas Flutuantes
  • José de Alencar - Iracema
4 de Novembro
  • Machado de Assis - Quincas Borba, O Alienista, Um Homem Célebre, Conto de escola, Noite de Almirante, Uns Braços
  • Eça de Queirós - O Crime do Padre Amaro
18 de Novembro
  • Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência
  • Érico Veríssimo - O Arquipélago
25 de Novembro
  • Dyonélio Machado - Os Ratos
  • Josué Guimarães - Camilo Mortágua
2 de dezembro
  • Guimarães Rosa - Primeiras Estórias
  • Clarice Lispector - Laços de Família

Vale lembrar que, uma vez que o certificado não estará mais disponível pra quem começar agora a participar, é possível se inscrever apenas para um dia específico pagando módicos 3 reais cada.

Programação interessante na cidade, pena que só seja feita uma vez ao ano e focando apenas nos livros do vestibular, sem dúvida seria uma ótima oportunidade de se discutir mais literatura (e com gente que entende muito do assunto)

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Incomum

A sensação é - como deveriam ser todas as sensações humanas - impossível de se descrever com palavras, mas é o quinto ou sexto calafrio que sinto hoje, desses que umedecem os olhos e arrepiam os pêlos do corpo.

Seria aquela sensação boba (ou não) de que alguma coisa fora do meu alcance acontece com alguém longe daqui, ou apenas uma impressão passageira e carregada do dia de finados?

A idade faz com a gente coisas que duvidaríamos alguns momentos atrás. O tempo todo.

Free Hugs

"Há um ano atrás, Juan Mann era só um homem estranho que ficava parado no Pitt Street Mall em Sydney, Austrália oferecendo abraços de graça para as pessoas que passavam pelas ruas. Um certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, o líder da banda Sick Puppies e, desde então se tornaram bons amigos. Um certo dia Moore decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por "Free Hugs". À medida que o Free Hugs atingiu proporções maiores, o conselho da cidade tentou banir a campanha . Então Mann e seus amigos fizeram uma petição com mais de 10.000 nomes apoiando a campanha do abraço de graça. Quando a avó de Mann morreu, Moore decidiu mixar o vídeo que ele tinha feito do Free Hugs com a música All the Same, que ele havia gravado com a sua banda Sick Puppies. Vale a pena conferir o vídeo. Um filme que apresenta uma verdadeira história que inspira humanidade e esperança.Algumas vezes um abraço é tudo que precisamos. Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria na vida das pessoas através de um abraço."

(music by sick puppies)