domingo, 21 de dezembro de 2008

pessoas são complicadas demais

Estou cansado demais pra descrever, triste demais pra explicar.
Provavelmente causaria cicatrizes mais fundas, lembraria de fatos mais sórdidos, sentiria mais raiva.
O nó no estomago já está desfazendo, a visão já não está tão turva, e o mundo não para pra que eu pule fora ou conserte as coisas com calma.
E o pior é que num dia como hoje, nem dormir eu posso pro tempo correr mais depressa.

confissão...

...de um domingo quente e trabalhoso:

Às vezes tenho vontade de ser uma pessoa mais ácida e malvada do que de costume, ou do tolerável. Isso está diretamente relacionado a períodos chatos de atividades maçantes e repetitivas que, na verdade, deveriam ser de descanso e diversão.

Nestes dias, (quase) não sei bem porque,  gostaria de ser um dos "vilões" deste roteiro chamado de vida.

sobre relacionamentos...

Diálogo entre Sheldon e Penny:

s: -Podemos considerar o gato de Schrödinger.
p: - ...
s: -Em 1935, Erwin Schrödinger, ao tentar explicar a interpretação de Copenhague da Física Quántica, propôs um experimento em que um gato é colocado em uma caixa com um recipíente de veneno, que se quebraria em um momento aleatório. Já que ninguém sabe quando o veneno será liberado, até que a caixa seja aberta, o gato pode ser considerado tanto vivo quanto morto.
p: - Me desculpe, mas não entendi...
s: - Assim como o gato de Schrödinger, o seu possível relacionamento com o Leonard, neste momento, pode ser considerado tão bom quanto mau. Você só vai descobrir ao abrir a caixa.

A física realmente explica quase tudo. Achei engraçado, melhor vendo: tirado de big bang theory

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

pequenas pérolas [5]

*para preencher os vazios de dias muito cheios

"Fique de vez em quando sozinho, senão você será submergido. Até o amor excessivo dos outros pode submergir uma pessoa."

Clarice Lispector - De corpo inteiro

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

ausência intencional

Quase uma semana calado. Sim, minha culpa. Nada grave, nada anormal, apenas uma preguiça descomunal e invencível. Todas aquelas noites em claro lendo, escrevendo, projetando, desenhando, cobraram seu preço. Não que as idéias não surgissem e se desenvolvessem na minha cabeça, mas a moleza e o cansaço eram tamanhos, que não escrevi, sequer lembro o que era. Meus sentimentos e motivações estão estranhos. Sinto como se a vida parasse de repente e nada mais pudesse ser feito. Tenho pensado em muitas coisas. Tenho pensado na morte. Culpa de Virgínia, que me toca de um jeito estranho em suas reflexões perdidas do Mrs. Dalloway. Ainda não acabei o livro. Falta pouco. Mais uma culpa da minha preguiça. Mais uma culpa minha. Estou sentindo meus textos fluidos. Caóticos, mas fluidos. Posso divisar meu passado com muita facilidade, posso divisar o presente, a percepção estranha na rua, as idéias bizarras que me ocorrem e correm e fogem para onde não posso vê-las. Onde os outros não possam vê-las. Tenho me notado muito diferente do que eu mesmo imaginei. A idade avança e me surpreendo. Às vezes fico chocado. Talvez devesse ter vivido a vida de uma maneira diversa. Fui covarde com algumas coisas. Acomodado com outras. Hoje consigo viver maluquices na minha cabeça. Mas ainda só na minha cabeça. O curioso é que depois de todos aqueles desabafos sobre a vontade de não ser eu mesmo e de ser outra pessoa não me mostraram que talvez eu não fosse exatamente daquele jeito. Não sou assim, sou múltiplo. Desfocado. Palavrinha linda. Nem lembro de onde a copiei. Nem lembro se na época eu estava ou não atrás de definição. Talvez sim, sempre estamos. Então alguém me disse, ou vi num filme, ou li num livro, e me identifiquei. Me vi refletido no significado. Ando procurando outros significados. Meus dias tem sido bons, diferentes. As pessoas a minha volta têm se mostrado especiais. E eu, louco. Completamente surtado. Acho que pra me livrar desse cansaço preciso de um pouco de isolamento, de solidão, de desconexão. Estranho este mundo moderno onde as necessidades que nós mesmos criamos nos prejudicam, nos fazem adoecer. E eu aqui, divagando sobre o que pouco interessa ao mundo, e você ali, lendo, se é que há alguém, e no mínimo se perguntando porque eu ainda estou solto, insano desse jeito, neste mundo perdido de hoje. Não sei. Só sei que foi assim.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

pequenas pérolas [4]

*para preencher os vazios de dias muito cheios

"A amizade é uma espécie de amor que nunca morre"

Mário Quintana - Porta Giratória

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

conspiração

O universo conspira contra mim.
e o dia nem parecia ruim,
apenas morno,
sem sal.

Mas eis que no cair da noite
vêm problemas,
discuções,
decepções,
espanto!

Que fazer quando a vida cobra
por aquilo que sequer levamos dela?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

pequenas pérolas [3]

*para preencher os vazios de dias muito cheios
**recomendo ler como poesia, espacei onde as pausas de efeito se fizerem necessárias.
***visto assim pela primeira vez em um sarau livre. Graças ao Leonardo Marques  (sem links pra publicar)

Chora,
disfarça e chora

Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora

A pessoa que tanto queria
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou o ensaio
por outra

Oh! triste senhora

Disfarça
e chora

Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo

Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto
oh! Triste senhora
Vai molhar o deserto

Disfarça e chora


Cartola - Disfarça e Chora

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

conselhos

Eu sei que você esteve distante e chorou e sofreu e que talvez a vida pareça agora madrasta. Tuas paixões e teus sentimentos parecem todos confusos e nada do que tu realmente queres acontece conforme planejado. Também sei que não preciso te falar que a vida é assim. As coisas sempre acontecem de uma maneira diferente da que desejamos e te dizer tudo isso só iria doer mais e mais e te deixar infeliz. O universo tem um ritmo próprio e ele nunca se ajusta ao passo de cada um de nós. Quanto mais diferente somos dos outros que perambulam por aí, mais facilmente nos taxariam de loucos ou depressivos. De sonhadores. Já ouvi dizerem que tu não sabes nada da vida, que teu jeito de lidar com os outros e esperar pelo melhor das pessoas te faz quebrar a cara a cada dia. Essa tua necessidade pela compreensão alheia, simulando um entendimento do outro que nem sempre é real, às vezes me parece hipócrita. Noutras me gera um desconforto no peito, uma vontade de te tomar no colo e te consolar e dizer pra parar de se angustiar desse jeito. Precisas mudar tudo. Fazer o teu próprio mundo e viver aquilo que gostarias já. A vida só depende de nós mesmos e apesar de parecer bem menos poético, ela é muito mais simples do que parece. Não, nem tudo é poesia, ou prosa. No dia-a-dia somos mais carne, mais lágrima, mais desejo, mais medo. Somos capazes de atos mesquinhos, vis. Eu sei que hoje e ontem, e em toda a última semana, tua ira esteve ali, percorrendo a superfície. Pude sentir no timbre da tua voz. Pude sentir naqueles instantes de silêncio onde o tempo quase pára e o momento interminável se quebra com um sorriso amarelo. Então teus olhos profundos entregam que nenhuma das histórias engraçadas que contas refletem o que está por trás. Até quando continuarás levando a vida assim? Até quando essa espera que relega tua própria felicidade ao acaso? Ao destino? A quem não veio? Deita e descansa tua cabeça. Dorme até as lagrimas secarem e o sofrimento ser esquecido. Não, não vai demorar tanto. Apesar de frágil o coração da gente remenda fácil. Sempre foi assim. Quem sabe num outro dia eu possa falar contigo novamente de todas essas amenidades sem o sorriso amarelo, sem o silêncio que constrange. Quem sabe esse conselho que te dou, e que certamente interpretará como crítica, um dia sairá dos teus lábios pra consolar meu coração em pedaços. Então vai ser reconfortante ouvir tudo isso dito por ti.

Das vantagens de ser bobo

"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."


Clarice Lispector