terça-feira, 24 de junho de 2003

Situações periclitantes.

*Cena 1 - Fim de tarde*
"Depois de uma tarde de trabalho cansativa, apesar de proveitosa, e de enfrentar o transito-tartaruga das seis e meia, adentro a biblioteca para renovar um livro. No balcão, um estranho movimento do outro lado da divisória de vido, uma garota abanando freneticamente, tentando chamar minha atenção..."

*pausa explicativa*
Sabe quando você se apaixona por alguém, e mesmo não correspondido, segue na paixão infantil e inocente durante muito tempo, apenas quebrando a cara quando ela e seu melhor amigo ficam juntos? E quando depois de 5 anos tudo está acabado (entre eles), e você tem reanimada a chama de que talvez reconquistar a única mulher que desejaria (sem a menor sombra de dúvida) ter ao seu lado durante o resto da vida? Mesmo sem saber se o que sente por ela agora é ainda tão forte quando o que sentia a exatos 5 anos atrás?
Difícil saber... mas tentem imaginar.

*retomando*
"A cara de bobo denuncia que talvez ainda exista alguma coisa, lá no fundo, ardendo. Ela me olha de cima a baixo, como se avaliasse o que o tempo (e a distância) me fez, enquanto eu só consigo pensar na impressão que eu posso ter causado. Algumas palavras e descubro os motivos de sua presença, coisa de faculdade.. me despeço e volto para o saguão."

Como a gente pode administrar essas estranhas sensações de dúvida, alegria, medo e inibição ao mesmo tempo?
Não sabia se fugia dali ou se continuava minha rotina normal.. preferi a segunda.

*Cena 2 - Oito e meia..."
"Após a aula, e algumas coisas realmente positivas em recompensa pelo trabalho da tarde, vem a hora do reencontro...
Mesmo sem ter qualquer noção do que deveria falar, de como agir, tinha a clara certeza de que estava dando a maior bandeira.."
E quem se importa?
Mas acho que ela não percebe nada disso... ou faz questão de esquivar com alguma sutileza. Não sei qual dos dois seria pior, só sei que mais uma vez a batalha foi em vão, mais uma vez me sinto ignorado, esquecido, acabado. E se não fosse as dúzias de outras razões que tenho para continuar, talvez suicídio fosse uma grande escapatória... Se não fosse também uma prisão, e um ato de coragem burra ( e eu insito em ser covarde e me achar inteligente...).

Acho que talvez a solução seja desacreditar a existência da alma gêmea: a lenda que as pessoas vem em pares destinadas a se encontrar e ser feliz ou continuar na incessante busca. Talvez fosse melhor mesmo, que nem na literatura isso existisse, e que a gente não sonhasse com o amor de conto de fadas.
Se bem que essa estranha palavrinha, amor, não tem muito significado... Talvez no Aurélio até tenha, mas fico pensando em quantas pessoas sentiram ele exatamente na pele... ou no peito, ou no cérebro...

Pra mim, é como receber aquela notícia que muda a sua vida, como ter ganho na sena, ou ter sido promovido no emprego... milhares de atomos de algumas substâncias que causam euforia circulando no sangue, e a vontade incontrolável de ter isso com mais frequência... é quase um vício, do qual você escapa e acaba recaindo, ao amoricar-se novamente por outro alguém...

O estranho é não sentir o amor alheio... E ter sempre a dúvida se ele existe... Como é possível ter certeza de que alguém sente qualquer dessas coisas por você? Ter certeza se alguém já sentiu, ou se você não passa de um reles renegado, que jamais terá a menor chance com qualquer pessoa? Que eu me lembre, em 22 anos de existência, uma única vez tive certeza de que provocava mais do que amizade numa pessoa, e infelizmente nossos destinos foram irremediavelmente interrompidos. Foi tão bom saber disso... mas me odeio a cada dia por ter sido uma única vez, e mais ainda por não ter sido contínuo...

Se não houvesse aquela máxima da psicanálise que diz que apenas as pessoas que têm complexo de superioridade acham que tem o oposto (o de inferioridade), porque apenas para elas se achar inferior é considerado tão grave, eu diria que sofro dele... Talvez seja apenas baixa auto-estima, talvez seja covardia (ou medo de sofrer mais).
Só espero não morrer sem ter provado direito esse maldito amor.

Eterno enquanto dura, único enquanto não acaba.

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