sexta-feira, 21 de novembro de 2008

irremediável

Chegou ao edifício lembrando-se mais uma vez das tantas distrações que um único dia era capaz de representar na sua vida. Não tinha foco, não tinha um caminho definido para trilhar, e ainda que para si próprio o caminho fosse mais importante do que o destino, via todos os destinos se afastarem rápido demais. Era frustrante não chegar a lugar nenhum. Era frustrante perder-se em atalhos que encompridavam a caminhada, e por mais belos e floreados que fossem traziam um sentimento de insegurança e inutilidade que ele desconhecera até então. Um sentimento de solidão. Solitudine. Loneliness. Cansaço. Estava cansando de seguir sempre adiante e de, na verdade, avançar muito pouco. Sentia o tempo escorrer pelos dedos, e nisso estava completamente sozinho no mundo. Os amigos meneavam a cabeça, faziam olhares de compreensão, mas no fundo, nas entranhas da sua alma obscura, tinha a certeza de que o faziam apenas por simpatia. Tinha essa capacidade de conquistar a simpatia alheia, e sofria com a incapacidade dos outros de ver o mundo à sua maneira. Soubera de uma ou duas pessoas como ele, mas eram poucos, solitários, depressivos, infelizes, muitos já haviam partido deste mundo, restavam apenas recordações escritas. E isto era insuficiente para consolá-lo. Tinha vontade de gritar. Não conseguia controlar os pensamentos que vinham e iam, as vozes, as imagens. Queria dar um fim a tudo isso, mas não sabia como, não conhecia mais uma vez o caminho, a saída. Não podia levar a vida assim, ignorar tudo, rir das desgraças. Invejava as outras pessoas em sua rotina tão certa, tão justa, tão merecida. E para ele os dias passavam vazios demais, velozes demais, e todo aquele consolo de que amanhã tudo recomeçaria, amanhã o sol brilharia novamente e várias tristezas ficariam perdidas no tempo que passou, se tornava mais e mais vazio. Já estava na hora de partir. E mais uma vez olhava para trás e não conseguia ver a utilidade de sua vida. Talvez fosse prepotência achar que tinha um papel no mundo. Quanta audácia. Deixava mais uma vez o edifício pra trás. Seguia a passos largos para casa. Esses passos largos que ajudavam a cabeça a não pensar em tudo isso. O vento forte que passaria por seus cabelos, seus dedos, pela palma rígida da sua mão aberta, em riste, esperando sentir esse contato com o mundo. E talvez só assim esquecer todos os sentimentos tristes que vinha ruminando ao longo do dia. Ao longo da vida. Esquecer, mas não superar. E viver com a sensação que, salvo poucas exceções, somente nestes pequenos momentos de passos largos, musica nos ouvidos e vento no rosto, conseguia se sentir esplendidamente feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas passos largos nem é pra quem quer, é pra quem pode o/