terça-feira, 16 de janeiro de 2007

1984

Retomando as leituras - agora que a vida anda mais leve - com George Orwell, 1984:

"O melhor era matar-se antes de ser apanhado. Sem dúvida havia gente capaz disso. Com efeito, muitos dos desaparecidos eram suicidas. Mas era preciso coragem desesperada para se matar num mundo em que era impossível obter armas de fogo, ou veneno rápido e certo. Pensou, com uma espécie de assombro, na inutilidade biológica da dor e do medo, na traição do corpo humano que sempre se congela na inércia, no momento exato em que dele se exige esforço especial. Poderia ter silenciado a moça morena se conseguisse agir com rapidez, mas precisamente por causa do perigo extremo que corria perdera a capacidade de agir. Ocorreu-lhe que em momentos de crise, nunca se luta com um inimigo externo, mas com o próprio organismo. Mesmo agora, apesar do gin, a dor surda do ventre tornava impossível dois pensamentos consecutivos. E é o mesmo em todas as situações aparentemente heróicas ou trágicas. No campo de batalha, na câmara de tortura, num navio que naufraga, as causas por que lutamos são sempre secundárias, esquecidas, porque o corpo incha, e se infla até ocupar todo o universo, e mesmo quando não nos paralisa o medo, nem gritamos de dor, a vida é uma luta, minuto a minuto, contra a fome, o frio, a insônia, contra uma dor de estômago ou de dentes."

2 comentários:

Léo Tavares disse...

Preciso ler. Devorei a Revolução dos Bichos. E todo mundo me fala maravilhas de 1984...
É tanta coisa pra ler, ver... dá até um nó no cérebro. Pensar que há mais livros interessantes e filmes maravilhosos do que há tempo para lê-los e assisti-los...

quebrando ovos disse...

opa Big Brother... =) adorei ... mas gostei muito da Revolução dos Bichos...

Sua próxima leitura poderia ser Nós do Zamiatin... dentro dessa linha A República de platão, teoria da conspiração and etc... é o melhor q já li...!

abs