quinta-feira, 21 de maio de 2009

ou uma coisa ou outra

Sou só eu que acho ou trabalhar com arquitetura e design é realmente complicado neste país?

Hoje li um post sobre sintomas de quem estuda design e me matei de rir com várias sentenças. Ele ilustra bem a profissão. Há alguns anos um texto bem similar circulava, aplicado aos arquiteturandos.

O curso superior é realmente cruel, e apesar de sugar muito de quem o percorre, ainda deixa lacunas enormes na formação. É pouco focado e desperdiça muito tempo em coisas pouco utilizadas, ou ao menos que não serão utilizadas pela maioria dos futuros profissionais. Claro que aí entra a lógica de formar um profissional completo, que entenda de tudo, mas no final das contas o que temos é um monte de gente que sabe pouco sobre muitas coisas, e que vai realmente aprender o que é a profissão quando já estiver longe dos professores.

Não quero que pareça uma lamentação, afinal, o bom profissional é aquele que continua se informando e se formando ao longo do tempo, mas é decepcionante concluir que a formação foi tão fraca mesmo depois do recorde de noites em claro que o curso proporciona. E no dia seguinte à formatura, a grande maioria dá de cara numa parede quase impenetrável chamada mercado.

Arquiteto recém formado é mão de obra barata, serve pra desenhar pros outros e fazer reformas para amigos e para a família. Não sabe cobrar pelo trabalho, não tem muita noção de valores de materiais e mão de obra, não sabe orçar, nem o que precisa desenhar para que as coisas sejam bem executadas.

Tem que correr atrás de informações dos mais variados assuntos, entender de tecidos, de tendências, de técnica construtiva e tecnologia atual. É consultado como uma enciclopédia ambulante e leva a culpa por aquilo que não der certo. Recebe por uma obra o suficiente para sobreviver por menos da metade do tempo que ela vai tomar e ainda treme na hora de passar a proposta, pois parece inacreditável que alguém vá lhe pagar tanto.

Em geral não tem hora pra trabalhar, acorda cedo, dorme tarde, passa algumas noites em claro e dificilmente sabe o que são férias. Sonha com o cliente perfeito, que vai contratá-lo dando carta branca e orçamento indefinido, para que possa então fazer sua obra prima e mostrar ao mundo a genialidade que possui, mas tem que se contentar com clientes de desejos gigantes e orçamentos tão espremidos que nem muita criatividade às vezes dá conta.

Acho que esse é o maior dilema, e o que mais dificulta: como produzir uma arquitetura ou um design de excelência se não existem tais oportunidades? Eu mesmo tenho várias idéias durante os minutos que dedico diariamente a aumentar o meu repertório sobre o assunto, mas como parar o mundo pra poder desenvolver tais idéias quando a vida não dá folga pra isso?
Parece simples, mas qualquer um que trabalhe na área vai saber que não se resolve essa situação em uma tarde. A maioria das idéias e projetos precisa de dias e dias de trabalho para ganhar consistência. E apenas a idéia não resolve, pois idéias são facilmente copiadas e reutilizadas, é preciso resultado, produção.

Nos últimos dias estou atrolhado de trabalho. Alguns deles braçais, desses de aprendiz, que exigem muito mas liberam pouco. Alguns criativos, mas ainda assim corridos. Como dizer não ao trabalho (e ao dinheiro tão necessário que ele traz) pra desenvolver idéias que pipocam aqui e ali e que nem se sabe se darão certo? Que nem se sabe se darão lucros? É difícil estar numa situação que exige essa escolha. E pra piorar, tenho a famosa síndrome de pobre: não sei dizer não a trabalho.

Já tive meus momentos de ócio, e em geral passei uma grande parte deles me autodivulgando, traçando estratégias, produzindo coisas que pareciam banais mas que, no fundo, liberavam parte dessa criatividade aprisionada. Não sei dizer se foram frutíferas, mas certamente foram recompensadoras. O que mais me dói, hoje, é o tempo que eu perco em tarefas braçais que poderiam ser realizadas por qualquer um, pra garantir minha sobrevivência, e deixar tanto potencial aqui, guardado, esperando uma oportunidade pra acontecer.

Por mais que eu confie no meu taco, em tempos difíceis como os que estamos, é complicado escolher o caminho incerto e arriscado, e abrir mão da (ínfima) segurança que - infelizmente - o sistema oferece.

3 comentários:

Windmaster A. Zack disse...

O importante agora eh lembrar de caminhar todos os dias /o/ xD O resto vai levando \o\

bwa sorte, tio xd

Cacá Ravizzon disse...

Querido Rodrigo...
Toda essa angústia é a mais puro realidade, não só dos dias de recém formado ou de tempos de crise...e o post que indicaste é simplesmente adorável...
Não interessa o que façamos, manter-se com fé no que fazemos e no que acreditamos; apesar dos contratos desanimadores, dos pedreiros que não nos compreendem, dos engenheiros que falam que somos nós complicados. Apesar dos clientes com orçamentos apertados, do domínio sobre tecidos, texturas e todo o mais. Mesmo sofrendo de "síndrome de pobre",o importante mesmo é como disse o post aí de cima e lembrar de caminhar a cada passo...
Muitos abraços...

mateussz disse...

Muito bom!
Penso igual. Tanto que, quando fui orador da minha turma, comecei o discurso dizendo que "de futuro da Nação, viramos um problema social"! Arranquei sorrisos de alguns, e a fúria do reitor! Por mais que queiramos um futuro melhor pros recém-formados, o mercado exige muitas coisas práticas e saimos teóricos demais. Então, cobra-se o injusto. Arquiteto é péssimo negociante. Mas no final das contas, vale a pena. Acabei de largar um emprego estável (mas pouco criativo) pra me dedicar exclusivamente ao escritório. Tomara que como autônomo, não vire um problema social!
Abração