Em 09 de Novembro de 2003, eu postei no Ócios do Ofício alguns tópicos do MANIFESTO (INCOMPLETO) PELO CRESCIMENTO (Ou "quarenta e três breves indicações para se viver no século XXI com a mente livre e aberta"). Naquele dia, sem vontade de digitar tudo, acabei mandando apenas alguns tópicos. Eis que, nesta quinta feira (dia 12) eu fazia faxina nuns papéis da faculdade e reencontrei meu original (a tradução não é minha, mas retoquei algumas partes...), então, afivelem-se bem nas cadeiras!
É longo, mas vale a pena, existem vários tópicos que definitivamente fariam a vida melhor.
O Original (em inglês) foi publicado na revista Domus No. 822 (de 1998) por Bruce Mau , e se encontra no site da BDM Design
1. Permita-se modificar pelas experiências. Você deve estar disposto a crescer. Crescimento é diferente de algo que simplesmente acontece com você. Você o produz. Você o vive. Pré-requisitos para o crescimento: abertura para viver novas experiências e disposição para ser modificado por elas.
2. Esqueça-se do BOM. BOM é uma quantidade conhecida. BOM é aquilo com que todos concordamos. O crescimento não é, necessariamente, BOM. O crescimento é uma exploração dos recessos obscuros que podem se mostrar próprios, ou não, para a nossa experiência. Enquanto você se prende ao BOM, nunca terá o verdadeiro conhecimento.
3. O processo é mais importante que o resultado. Quando o resultado dirige o processo, chegamos apenas a lugares onde já estivemos. Se o processo dirige o resultado, podemos não saber para onde estamos indo, mas saberemos que queremos estar lá.
4. Ame suas experiências (como você amaria uma criancinha feia). A alegria é o mecanismo do crescimento. Explore sua liberdade fazendo do seu trabalho belas experiências, repetições, tentativas e erros. Aprenda a ver além, e permita-se divertir com o fracasso todos os dias.
5. "Vá fundo". Quanto mais fundo você for, mais provavelmente encontrará algo de valor.
6. Armazene os "erros". A resposta errada é a resposta certa a procura de uma pergunta diferente. Armazene respostas erradas como parte do processo. Faça perguntas diferentes.
7. Estude. Use a necessidade de produzir como desculpa para estudar. Todos se Beneficiam.
8. "Ande por aí". Permita-se vagar sem rumo. Explore as adjacências. Faça menos julgamentos. Adie a crítica.
9. Comece por qualquer lugar. John Cage ensina que não saber por onde começar é uma forma de paralisia. Seu conselho: comece por qualquer lugar.
10. Qualquer um pode ser líder. O crescimento acontece. Quando acontecer, permita que se manifeste. Aprenda a seguir quando for a coisa certa a fazer. Permita a qualquer um ser líder.
11. Colha idéias, edite aplicações. As idéias precisam de um ambiente dinâmico, fluido, generoso, a fim de se manterem vivas. As aplicações, por outro lado, beneficiam-se de rigor crítico. Estabeleça uma proporção alta de idéias por aplicação.
12. Mantenha-se em movimento. O mercado e suas operações têm a tendência de reforçar o sucesso. Resista a isso. Permita que o fracasso e a migração sejam parte de sua rotina profissional.
13. Vá devagar. Abandone a sincronia com as contagens de tempo tradicionais, e oportunidades surpreendentes podem se apresentar.
14. Não "fique na sua". "Ficar na sua" é vestir o medo conservador como um "pretinho básico". Liberte-se dessa natureza.
15. Faça perguntas bobas. O crescimento é alimentado por desejo e inocência.
Valorize a resposta, não a pergunta. Imagine-se aprendendo ao longo da vida na mesma proporção que uma criança.
16. Colabore. O espaço onde as pessoas trabalham juntas é cheio de conflito, tensão, rivalidade, hilaridade, alegria e vasto potencial criativo.
17. ............ Deixe um espaço vago intencionalmente. Deixe uma vaga para as idéias que você não teve, ou para as idéias dos outros.
18. Fique acordado até tarde. Coisas estranhas acontecem quando você vai muito longe, fica muito tempo acordado, trabalha demais e se separa do resto do mundo.
19. Trabalhe a metáfora. Todo objeto tem a capacidade de representar algo além daquilo que é aparente. Trabalhe no que ele representa.
20. Seja cuidadoso ao assumir riscos. O tempo é genérico. O hoje é filho do ontem e pai do amanhã. O trabalho que você faz hoje vai criar seu futuro.
21. Repita-se. Se você gostou, faça de novo. Se você não gostou, faça de novo.
22. Faça suas próprias ferramentas. Misture suas ferramentas afim de criar peças únicas.
Mesmo as mais simples ferramentas que você possua podem abrir grandes horizontes. Lembre-se: as ferramentas ampliam nossas capacidades de tal maneira que mesmo a menor delas pode fazer uma grande diferença.
23. Suba nos ombros de alguém. Podemos ir mais longe se levados pelas conquistas daqueles que vieram antes de nós. E a vista é bem melhor.
24. Evite programas de computador. O problema dos programas de computador é que todos os têm.
25. Não limpe sua mesa de trabalho. Você pode encontrar pela manhã algo que você não viu à noite.
26. Não participe de concursos. Apenas não faça isso. Não é bom para você.
27. Leia apenas as páginas ímpares. Marshall McLuhan fazia isso. Diminuindo a quantidade de informação, deixamos espaço para aquilo que ele chama de "cérebro".
28. Crie palavras. Expanda teu léxico. As novas condições demandam uma nova forma de pensamento. O pensamento demanda novas formas de expressão. A expressão gera novas condições.
29. Pense com sua mente. Esqueça a tecnologia. O criativo não é dependente de equipamentos.
30. Organização = liberdade. Verdadeiras inovações em design, ou em qualquer outro campo, acontecem dentro de um contexto. Esse contexto é, geralmente, alguma forma de empreendimento administrado cooperativamente. Frank Gehry, por exemplo, somente pôde realizar o Guggenheim de Bilbao porque sua equipe desenvolveu o projeto dentro do orçamento.
O mito da separação entre criatividade e adequabilidade é o que Leonard Cohen chama de "charmoso artefato do passado".
31. Não tome dinheiro emprestado. Mais uma vez, conselho de Frank Gehry.
Mantendo o controle financeiro, mantemos o controle criativo. Não é exatamente uma ciência exata, mas surpreendem a dificuldade de manter essa disciplina e o numero dos que falharam.
32. Escute atentamente. Cada colaborador que entra em nossa órbita traz consigo um mundo mais estranho e complexo do que qualquer coisa que pudéssemos imaginar. Ouvindo aos detalhes e às sutilezas de suas necessidades, desejos e ambições é que inserimos o mundo deles no nosso. (depois disso) as partes nunca mais serão as mesmas.
33. Faça visitas a campo. O mundo real é muito mais interessante do que aquilo que você vê na tela da sua TV, na Internet, ou mesmo em um ambiente simulado em computador totalmente imersivo, interativo e com gráficos em tempo real.
34. Cometa erros mais depressa (que os outros). Não é idéia minha ? tomei emprestada. Acho que pertence a Andy Grove. (Não é uma idéia original, mas é bom se for aprender com esses erros.)
35. Imite. Não tenha vergonha disso. Tente se aproximar ao máximo que você puder (do original). Você nunca chegará lá, e a diferença poderá ser verdadeiramente notável. Temos apenas que olhar para a versão de Richard Hamilton dos grandes óculos de Marcel Duchamp para ver quão rica, desacreditada e subtilizada a imitação é como técnica.
36. Improvise. Quando você esquecer as palavras, faça o que Ella (Fitzgerald) fazia: invente alguma outra coisa. Talvez sem palavras.
37. Quebre, estique, dobre, esmague.
38. Explore o outro extremo. Existe grande liberdade quando não se tenta correr com o "fardo tecnológico" (sobre os ombros). Não podemos saber quem está na liderança, porque este também já ficou pra trás. Tente usar antigas tecnologias, equipamentos tornados obsoletos por um ciclo econômico mas que ainda tem potencial.
39. Pausas para café, viagens de táxi, salas de espera. Freqüentemente o verdadeiro crescimento não ocorre onde o prevemos. (ocorre) nos "espaços intersticiais" o que o Dr. Seuss chama de "áreas de espera". Hans Ulrich Obrist, curador de exibições em Paris, uma vez organizou uma mostra de ciência e arte com toda a infraestrutura de uma conferência (festas, seminários, almoços, recepções em aeroportos) mas sem uma conferência de verdade. Aparentemente, foi um grande sucesso e gerou muitas colaborações futuras.
40. Cruze os campos, pule as cercas. Limites disciplinares e regimes regulatórios são tentativas de controlar a impulsividade da vida criativa. Eles são, freqüentemente, esforços compreensíveis de ordenar os processos evolutivos mais complexos. Nosso trabalho é pular as cercas e cruzar os campos.
41. Ria. As pessoas que visitam o estúdio freqüentemente comentam que rimos muito. Desde que me tornei ciente disso, uso o riso como um barômetro para medir o quão confortavelmente estamos nos expressando.
42. Lembre-se (do passado)! O crescimento só é possível como produto da História.
Sem a memória, as inovações são meras novidades. A História dá uma direção ao crescimento. Mas uma memória nunca é perfeita. Cada memória é uma imagem degradada ou composta de um momento ou evento do passado. É isso que nos faz cientes de sua qualidade de passado, e não de presente. O que significa que cada memória é nova, é uma parte construída diferentemente de sua fonte e, como tal, potencial para ao próprio crescimento.
43. "Poder para o povo". O jogo somente pode acontecer quando as pessoas sentem que têm controle sobre suas vidas. Não podemos ser agentes da liberdade se não formos livres.
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