segunda-feira, 13 de março de 2006

Ancestralidade

Ouça no vento
O soluço do arbusto:
É o sopro dos antepassados.
Nossos mortos não partiram.
Estão na densa sombra.
Os mortos não estão sobre a terra.
Estão na árvore que se agita,
Na madeira que geme,
Estão na água que flui,
Na água que dorme,
Estão na cabana, na multidão;
Os mortos não morreram...

Nossos mortos não partiram:
Estão no ventre da mulher
No vagido do bebê
E no tronco que queima.
Os mortos não estão sobre a terra:
Estão no fogo que se apaga,
Nas plantas que choram,
Na rocha que geme,
Estão na floresta,
Estão na casa.
Nossos mortos não morreram.

Birago Diop (poeta africano)

.:*:.

Final de semana diferente e especial, viagem às raizes do Rio Grande do Sul, à terras carregadas de histórias e assombramentos. Engraçado como a história está sempre ao alcance de todos - por mais mal contada que seja, por mais unilateral versão do lado vitorioso - mesmo daqueles que não a vêem ou não a querem ver. Engraçado como deixamos de perceber certas verdade e acontecimentos passados carregados de medo e dor, de suspense e terror, e nos perdemos em outros temas fictícios sem saber que a arte, quase sempre imita a vida (muito mais do que o inverso).

Nunca me interessei muito por história. Sempre achei que era passado, que apesar das lições sobre o mundo e as pessoas, o homem devia fitar mais o futuro, ou talvez o presente.
Hoje tenho certeza que o passado é mais, é encantamento, fascinação.
Que a história vai além de um amontoado de datas para se decorar, de experiências que deram certo ou não.

Outra coisa: nunca pensei sentir tão intenso o chamado da terra. Sempre me considerei urbano, com grande necessidade de tecnologia, luzes, sons. Não sei descrever exatamente o que eu senti, não foi uma sensação que eu reconhecesse, mas estar em meio ao campo, longe de tudo, foi certo sentimento de liberdade. Ou autoconhecimento.

Assim que for um tanto mais dono de meu futuro, quero investir mais neste tipo de experiência.
Acho que falta aventura nas vidas de todos... A gente não quer só comida...

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