"O que está em jogo numa cultura em que a mulher aprende desde cedo que sexo é motivo de vergonha? O que se esconde por detrás de uma sociedade em que a Aids cresce assustadoramente na placidez idealizada de famílias tradicionais? O que se pensar de uma realidade na qual fábricas controlam o ciclo menstrual de suas empregadas e demitem as que estão grávidas? O que dizer de sociedades que aprovam o estupro de mulheres que não são mais virgens? Num texto veemente e polêmico, a premiada jornalista Silvana Paternostro explora essas questões, rompendo o tenso silêncio que envolve a cultura sexual na América Latina.
Enfocando uma realidade assustadoramente atual, Paternostro apresenta neste livro que combina cuidadosa pesquisa sociológica a suas próprias vivências pessoais, o incômodo retrato de uma sociedade que está pagando um preço alto pela própria ignorância e hipocrisia. E mostra ainda - a partir do relato de vários casos verídicos colhidos durante as suas viagens pelo continente - como nenhuma dessas situações é independente, como elas estão interligadas à natureza de nossa cultura, nosso governo e nossa religião. "
Lendo essas notas de orelha do livro, dá pra ter uma idéia do assunto que Silvana, essa jornalista colombiana que viajou o mundo e conheceu a realidade (principalmente das mulheres) de toda a América Latina, enfoca ao longo das mais de 400 páginas bem escritas que misturam texto jornalistico com reflexões pessoais (e muito inteligentes) de tudo que é abordado.
"O livro tenta esclarecer por que mais da metade dos lares pobres da América Latina são encabeçados por mães solteiras, por que as mulheres casadas estão correndo mais risco de contrair Aids do que uma prostituta, por que 80% das mulheres casadas que tiveram resultado HIV-positivo foram infectadas através do comportamento bissexual de seus maridos, por que a Igreja Católica está pondo as mulheres em risco ao proibir o uso de preservativos e a legalização do aborto."
O texto é explícido, sem papas na língua, a abordagem vai de chocante a assutadora, mas ajuda a compreender questões deixadas de lado pela sociedade e a ver melhor uma realidade disfarçada pela criação machista e religiosa que temos.
Abre a discussão falando da falta de orientação e educação sexual em toda a américa latina (e católica), da marginalização do papel da mulher (num passado recente, em parte ainda contemporâneo), de gravidez, aborto, prostituição, homosexualismo, sexo, desejo, diálogo, de autoconhecimento e comportamento humano.
Também alerta (em sua totalidade) para a importante questão da AIDS em uma época de liberação sexual disfarçada, principalmente no Brasil "ambíguo e contraditório" onde se acredita em uma "sociedade democrática e multicultural", mas que ao mesmo tempo nunca corresponde à realidade.
O mais assustador é avançar além do período de edição do livro (1998) e se deparar com a realidade atual ( principalmente) do Brasil, e com uma idéia vaga dos quadros das DSTs, principalmente a AIDS, e das estatísticas de gravidez adolescente, aborto, violência e marginalização das mulheres. É sociologia, mas do melhor tipo, porque revela a essência da cultura sexual da América Latina.
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