quinta-feira, 10 de junho de 2004

Em primeiro lugar, agradeço as manifestações de apoio e revolta em função do post anterior, tanto por comments quando por icq, msn, e-mail, sinais de fumaça e mensagens telepáticas e empáticas.

Valeu pessoal, as vezes a gente pega pesado e é bom ter amigos pra abrir um pouco nossos horizontes.

Realmente preciso mudar aquelas recomendações...

"Tome cuidado com suas expectativas"

Não é exatamente um mudança radical, mas acho que já engloba todos os pontos de vista.

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E o vazio não passa.

Sei que vai parecer lamentação, reclamação, e que eu não sei ver que minha vida é legal em vários aspectos.

Mas não é algo racional, não sei explicar os porquês, e quando tento sempre me contradigo ou acabo confuso.

Apenas sentimentos. Não sei o que faço com meu dia de folga, não sei o que faço com meu tempo livre, e sempre me arrependo por tê-lo desperdiçado no final, sem ter feito coisas boas, produtivas ou divertidas.

Sinto falta de algumas coisas, mas não sei dizer do que.
É bem provavel que no dia em que isso mudar, eu saberei, mas era agora que eu precisava dessas informações.

E essa droga de solidão.
E essa droga de chuva.

Dias sem inspiração são tristes.

Segue um texto da Martha Medeiros, muito apropriado com a proximidade do dia dos namorados, que achei por acaso na capa do terra...
Li e achei muito bom. Boa leitura...

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Excluidos

Ao contrário do que o título desta crônica possa sugerir, não vou falar sobre aqueles que vivem à margem da sociedade, sem trabalho, sem estudo e sem comida. Quero fazer uma homenagem aos excluídos emocionais, os que vivem sem alguém para dar as mãos no cinema, os que vivem sem alguém para telefonar no final do dia, os que vivem sem alguém com quem enroscar os pés embaixo do cobertor. São igualmente famintos, carentes de um toque no cabelo, de um olhar admirado, de um beijo longo, sem pressa pra acabar.

A maioria deles são solteiros, os sem-namorado. Os que não têm com quem dividir a conta, não têm com quem dividir os problemas, com quem viajar no final de semana. É impossíver ser feliz sozinho? Não, é muito possível, se isso é um desejo genuíno, uma vontade real, uma escolha. Mas se é uma fatalidade ao avesso - o amor esqueceu de acontecer - aí não tem jeito: faz falta um ombro, faz falta um corpo.

E há aqueles que têm amante, marido, esposa, rolo, caso, ficante, namorado, e ainda assim é um excluído. Porque já ultrapassou a fronteira da excitação inicial, entrou pra zona de rebaixamento, onde todos os dias são iguais, todos os abraços, banais, todas as cenas, previsíveis. Não são infelizes e nem se sentem abandonados. Eles possuem um relacionamento constante, alguém para acompanhá-los nas reuniões familiares, alguém para apresentar para o patrão nas festas da empresa. Eles não estão sós, tecnicamente falando. Mas a expulsão do mundo dos apaixonados se deu há muito. Perderam a carteirinha de sócios. Não são mais bem-vindos ao clube.

Como é que se sabe que é um excluído? Vejamos: você passa por um casal que está se beijando na rua - não um beijinho qualquer, mas um beijo indecente como tem que ser, que torna tudo em volta irrelevante - você inclusive. Se lhe bate uma saudade de um tempo que parece ter sido vivido antes de Cristo, se você sente uma fisgada na virilha e tem a impressão que um beijo assim é algo que jamais se repetirá em sua vida, se de certa forma este beijo que você assistiu lhe parece um ato de violência - porque lhe dói - então você está fora de combate, é um excluído.

A boa notícia: você não é um sem trabalho, sem estudo e sem comida - é apenas um sem-paixão. Sua exclusão pode ser temporária, não precisa ser fatal. Menos ponderação, menos acomodação, e olha só você atualizando sua carteirinha. O clube segue de portas abertas.

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