quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Psicologia Inversa

Descoberta (ou tomada de consciência?) dos ultimos dias:
É mais fácil saber o que não - ou como não - queremos ser.
Nestes últimos tempos tenho aprendido que vários comportamentos meus são completamente insuportáveis. De fato, eu sou uma pessoa pouco suportável (pra mim mesmo), o problema é que ou demoro a me dar conta de algumas coisas ou só o faço quando alguém se comporta da mesma maneira comigo. Será este um problema de todos nós? Ou sou intolerante demais?
E mudar é tão complicado, depende de estar consciente o tempo todo, e acabo por agir instintivamente na maior parte do meu tempo. Será que a maturidade ameniza isso ou com a idade apenas perdemos mais ainda o controle?

Política...

"Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera."

Augusto dos Anjos tinha razão - certos textos nunca deixam de ser atuais.
E as pessoas continuam mal informadas. Prometi que não falaria em política publicamente, mas já quebrei essa promessa várias vezes. Não consigo ficar calado quando ouço uma bobagem, dessas sem tamanho, que as pessoas despejam por aí. Não vou fazer propaganda de nenhum partido ou candidato aqui, pois como dizem os versos, cada um deve sentir, inevitável, sua própria necessidades de ser fera, e o que é verdade para uns pode não ser para todos.

Pena que a grande massa viva deste país não saiba correr atrás daquiulo que realmente poderia resolver sua vida, mas enfim, a uma altura dessas dos acontecimentos, só resta pedir a Deus ou a qualquer outra força superior que zele um pouco pelos desajuizados. E que perdoe qualquer lapso, afinal, a maioria de nós não sabe o que faz.

Boa eleição à todos, votem com consciência (e acreditando, se ainda for possível)

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

lacunas

Sensação estranha na hora de dormir, todas as noites iguais, um vazio, um vácuo, uma revolta entre duas metades de mim, seguir acordado indefinidamente, lembrar do amanhã de compromissos inadiáveis, chatos, burocráticos, temperados por muito sono, desejar uma outra vida, um outro papel, ser protagonista em uma outra história, ser coajuvante da própria história, vazios menos profundos, um lugar especial, uma casa, uma morada, uma vista para o mar, música e idéias, imaginação sem limites, filmes antigos, fotografias em sépia e preto e branco, paixões diárias avassaladoras, pela própria vida, mundo, pessoas, que cruzam o caminho uma única vez, várias vezes, o tempo todo, um único instante, desejar o ontem, desejar o amanhã, refugar o agora, sentir-se fora de época, fora de local, fora de rumo, rumar sem destino, rumar apenas pela estrada, escolher caminhos, deixar pegadas, marcas, pedaços, ser diferente a cada dia, crescer ainda que pra dentro, estar sempre incompleto, sempre repleto de vazios, de pedaços, de peças trocadas aqui e ali com o mundo, ser um mutante contraste de cheios e vazios que nunca se completa.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Carlos Chega ao Céu

E olhando aquele nuvenzal
todo, comenta: “Gente, não é
que virei mesmo eterno?”


Lá no céu, Cecília Meireles acorda cedinho. Mais cedo ainda do que de costume, que ela gosta de espiar os querubins tontinhos de sono. Mas hoje é dia especial. Cecília prende os cabelos, depois toma sua homeopatia (será Dulcamara? Daqui não dá pra ver – pode até ser Stramonium) e lava devagar o rosto na água do arco-íris. Bebe seu chazinho de pétalas de rosa branca – amarela não, que dá azia. Escova devagar as asas, pluma por pluma. Só depois de bem bonita é que bate de leve na porta da nuvem ao lado. Dentro, um resmungo mal-humorado.
É Vinícius de Moraes, que virou a noite com o arcanjo Gabriel, conhecendo as bocas da zona da Ursa Maior, aquela louca pirada. Mesmo de ressaca, o Poetinha acorda. “É hoje” – sussurra Cecília na janela que Vinícius se espreguiça: “Ô xará, não é que é mesmo hoje” E vai correndo se aprontar.
De braços dados, os dói vão bater à porta da nuvem de Manuel Bandeira. Mas nem era preciso. Manuel á está aceso, debruçado na janela, o nariz um pouco vermelho, fungando e tomando café quente que Irene acabou de prepara. “É hoje” – dizem Cecília e Vinícius. Manuel funga: “E eu não sei, gente? Daqui a pouquinho”. Os três ficam em silêncio, o coração deles começa a bater no mesmo compasso (dodecassílabo? Daqui não dá para ouvir direito) então eles olham para baixo, em direção ao planeta Terra, que gira e gira, meio bobo de tão azul.
Aí uma nuvem dourada lá embaixo começa a ficar cada vez mais dourada, a chegar cada vez mais perto. Brilha tanto que os três quase se assustam, até reconheceram São Pedro na direção. Que pena, não dá mais tempo de chamar Pedro Nava. A nuvem aterrissa, São Pedro abre a porta. Um pouco encabulado, atrapalhado com as asas, cabeça baixa. Carlos Drummond de Andrade desce e põe os pés n céu. “Não é que virei mesmo eterno?” – comenta, olhando aquele nuvenzal todo. Então vê os três. Tanto tempo, pois é, tanto tempo, pensei que nem vinha mais.
Cecília, você não mudou nada, e essa barriga, Poetinha? Não toma jeito, curou a tosse, Bandeira? Ta mais magro, Carlos, e a Dolores? Vai bem, mandou lembranças, qualquer dia chega por aqui. Irene traz mais café, bem preto, bem forte. Vinícius dá um jeitinho de virar no café uma talagada de uísque da garrafinha que carrega sempre, disfarçada sob a asa esquerda. Os quatro brindam, olhos molhados de saudade satisfeita.
Depois olham pro mundo aqui de baixo, que girar e gira, todo azul, assim de longe, e esperam um pouquinho, enquanto bebem o café, até conseguirem localizar, entre nuvens, a América do Sul. Custa um pouco para encontrarem , quase no extremo sul dessa América, um pontinho luminoso chamado Porto Alegre e, bem no centro do coração dessa cidade, um velhinho de cara sapeca, parado em frente a um porta-retratos com a foto da Bruna Lombardi. É o Mário Quintana – eles sabem -, ou será o Anjo Malaquias? (isso nunca ninguém soube). Cecília, Vinícius, Manuel e Carlos sorriem mansinho, espiando Mário lá do céu, lá de cima.
Mas a Terra – tão azul assim, vista de longe, vista de cima – eles olham com pena. Sabem que pelo menos metade desse azul todo, depois que eles se foram, brota dali, do quartinho do Mário. Aí suspiram, tadinho, que barra! Um anjo torto vem pedir autógrafo de Carlos. “desguia” – avisa Vinícius. – “Um chato, maior aluguel”. Carlos pergunta de Maria Julieta, Manuel diz que leva ele até lá. Cecília tem um almoço com Clarice e Ana Cristina. Vinícius não sabe se dorme mais um pouco ou se pega o Leon Eliachar para irem até a casa de Elis - será que já acordou, a diaba? -, ta com samba novo na cabeça, precisa cruzar com a Clementina.
Cá embaixo, no centro do coração gelado do pontinho luminoso chamado Porto Alegre, pleno agosto, Mário Quintana abre a janela, olha para cima e dá uma piscadinha.
Danados, pensa, que danadinhos. O dia parece tão cinzento que não resiste à tentação de escrever um poema. Bem curtinho, bem feliz. Entre lá e cá, girando e girando sem parar, feito louca.
A Terra também não resiste. De puro gosto, fica ainda mais azul – você viu?


O Estado de São Paulo, 26/8/1987

Caio Fernando Abreu – Pequenas Epifanias – Editora Agir

domingo, 17 de setembro de 2006

Epifania

Sentado junto à janela,
com a máquina de escrever à sua frente,
olhava sobre os telhados esperando por uma epifania.
Mas as melhores palavras, os melhores contos,
sempre eram impublicáveis.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Sem ensaios...

Quem dera a vida fosse uma grande peça de teatro, com alta produção e diversos ensaios para prevenir as falhas e erros de interpretação. Uma daquelas em que a gente lê o roteiro antes pra evitar cenas indesejadas, sob pretesto de recusar o papel. Ou então - mais modesta - tivesse ao menos um ensaio, pra que mesmo sem escapar de todas as falhas, pudessemos evitar as desgraças maiores, e viver a apresentação de verdade com a experiência de já ter visto de tudo.

Devaneios de uma tarde fria e chuvosa. Sei lá porque me vêm a vontade doida de viver toda a minha vida de novo, do mesmo jeito, mas com a perspectiva que possuo hoje do mundo, das pessoas, da própria vida.

O tempo é curioso, inimigo e amigo ao mesmo tempo.
Sei que em breve, talvez uma dezena ou mais de anos, eu sinta a juventude se esvaindo e mude de idéia, mas ultimamente fiz as pazes com ele.

Só fica essa vontade, esse desejo, de que toda esta luz que se faz agora sobre o mundo e as pessoas, tivesse chegado muito antes, poupado muitos tombos, esbarrões e situações que nem chegaram a ser embaraçosas pela simples incapacidade de compreensão do todo.

Tomara que o mundo me reserve ainda vários anos pra aproveitar isso, e o que mais estiver por vir. Tomara...

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

You're gonna find yourself somewhere, somehow.

Vi o clipe dessa música - put your records on - por acaso, num domingo entediante em que passava os canais rapidamente a procura de algo que não derretesse meu cérebro.
Gostei da simplicidade, de alguns pedaços, da melodia, enfim, é meio boba, mas cola feito chiclete. Ficam uns trechinhos...


"Maybe sometimes,
we got it wrong,
but it's alright
The more things seem to change,
the more they stay the same
Oh, don't you hesitate. "

"Maybe sometimes,
we feel afraid,
but it's alright
The more you stay the same,
the more they seem to change. "
Don't you think it's strange?

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Ingredientes

* post inspirado por uma breve visita ao mercado público de Porto Alegre neste final de tarde, para comprar um pacote de aveia, mas que acabou num grande prejuizo por conta de diversas aquisições importantes...



Curry, páprica, orégano, alho, salsinha, manjericão, manjerona, cominho, cebolinha, alho-poró, salsão, pimentas, noz moscada, azeitonas, tomates secos, funghi, champignon, shiitake, shimeji, azeite de oliva, cravo, canela, baunilha, erva doce, uvas-passa, figos cristalizados, bananas-passa, maçã seca, damasco, ameixas-pretas, nozes, castanhas, coco ralado, aveia, flocos de milho, flocos de arroz, ...

Esses itens não fazem parte de uma receita específica, mas constam na minha Wishlist.
Se a minha própria sobrevivência não dependesse tanto do meu trabalho, certamente uma das profissões que seria a culinária. Não o básico, não o cotidiano, o feijão-com-arroz de todo o dia, mas um verdadeiro laboratório, bem próximo do que são as cozinhas dos grandes chefes de hoje.

Acho que sempre tive meu radar profissional voltado pras coisas que mexem com os sentidos, fui cair justo no mais difícil de exercer. Um dia ainda abro um restaurante pequeno, desses lugarzinhos que as pessoas só descobrem por acaso ou indicação e que nunca passam do patamar de lugarzinho pra não perder o charme e o jeito anti-industrial de ser.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Observações de quarta à tarde

duas coisas:

1. Cerca de 80% do que uma pessoa é vêm da imaginação das outras pessoas.
As vezes fico chocado com isso: como a imaginação alheia consegue alterar o perfil de uma pessoa quase completamente. Engrandecendo ou diminuindo, apaixonando ou odiando. Ando vivendo algumas situações bem presentes disso tudo, o que me faz pensar que as vezes o imaginário é mais importante do que o real, por um determinado tempo....

2. Qual tipo de poder é mais importante: carisma, dinheiro ou contatos?
Sempre achei que dinheiro fosse, ao menos aqui no Brasil, a opção ideal (se nos fosse dada a escolha), mas me pergunto hoje até onde vão as garras de um carisma impressionante (combinado ou não com quaisquer falhas de caráter). Gentileza, inteligência e charme sempre são um perigo...

Comments

Só avisando aos que deixaram comentários chulos que eu ri muito de tudo, mas que meu saldo bancário ainda não chegou tão alto a ponto deu não dar bola para esse tipo de risco e publicá-los... e sim, concordo com a opinião de vocês todos sobre a justiça brasileira...

sábado, 2 de setembro de 2006

Moderação de comentários

Pessoas, novidade quente:

o blog Imprensa Marrom foi condenado a uma ação de reparação de dano moral, porque um comentarista teria ofendido a honra de uma pessoa. Isso mesmo, fiquem atentos: o comentário não era de um dos donos do blog, nem mesmo de um redator: foi um comentário, anônimo, desses que as pessoas deixam nos posts. O blog não foi avisado, nem sequer para que o comentário fosse removido. O blog simplesmente foi tirado do ar de uma hora pra outra pela justiça, além da cobrança de uma indenização de 3500 reais.

Mesmo sabendo que o autor podia ser rastreado por IP, o juiz entendeu que a responsabilidade do blog é do dono, independente da autoria do coment.

Enfim, abre o precedente pra outros tipos de processo desse tipo.
A partir de hoje, meus comentários (ou melhor, os do ócios) não têm mais palavra de verificação, a partir de hoje os comentários serão moderados, ao menos assim fico seguro quanto o conteúdo deles. Espero a compreensão de todos, e fiquem de olho nesse tipo de coisa, abraços!

(notícia via: martelada)